Os impossíveis da medicina
, 06.01.16
Na faculdade de medicina ensinam-nos probabilidades e bioestatística.
Ensinam-nos que há acontecimentos altamente improváveis, mas muitos de nós, médicos, gostamos de dizer "lamento, mas é impossível acontecer". Provavelmente pela sensação de poder, de determos o conhecimento e a verdade.
Mas poucos médicos mantêm este tipo de discurso, porque estatísticas são estatísticas, e pessoas são pessoas. E a vida é uma coisa complexa, que nos vai ensinando a nunca dizer nunca. Porque nunca se sabe.
A senhora de 40 anos que entrou no meu consultório disse que não era suposto estar ali, que tudo aquilo era impossível. Tinham-lhe dito, há muitos anos atrás, que era impossível engravidar, por ter as trompas obstruídas. Vários médicos repetiram essa palavra definitiva. Tentou tudo e mais alguma coisa durante 20 anos para ter o tão desejado filho, e depois desistiu.
Pelo meio, teve um cancro na mama, e foi preciso fazer uma cirurgia radical e uma série de outros tratamentos. Ser mãe era uma coisa há muito esquecida.
No meio de uma vida complicada, entrou numa depressao profunda, separou-se, esqueceu-se dos meses, namorou sem pensar em futuro.
Um dia, o impossível aconteceu. Um dia, descobriu que estava grávida do filho impossivel.
Chora ao ouvir o coração do filho impossivel. Do "acidente" impossivel, aos 40 anos, depois de um diagnóstico de infertilidade, de um cancro da mama e de uma depressão. Chora e ri ao mesmo tempo. E diz que mesmo que o pai não o queira, ela vai fazer tudo por este milagre.
Não há impossíveis - nem na medicina, nem na vida.
Que haja sempre esperança.