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Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Desafios

Avatar do autor , 27.11.18

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É engraçada, esta coisa da maternidade: eles, filhos, entram de rompante na nossa vida e viram-na de cabeça para baixo sem pedir licença. Por mais que nos preparemos para ser pais, nunca estamos verdadeiramente prontos para todas as novidades diárias que os filhos nos trazem.

Para todos os desafios.

Para desafiarem as nossas firmes convicções.

E subitamente, tomamos consciência que somos pessoas diferentes por causa deles, que as nossas prioridades mudaram. Não é fácil este caminho, e é em simultâneo o melhor do mundo. E o que eu mais quero é poder aproveitar ao máximo todos os instantes que a vida nos proporciona para crescermos juntos, porque o tempo não pára. (na foto, a Mariana com 4 anos e o Pedro com 9 meses ❤️)

 

O que importa é que venha com saúde?

Avatar do autor , 08.11.18

Sempre me lembro de ouvir esta frase, desde pequena, no que a grávidas diz respeito : "Não interessa se é menino ou menina, o que importa é que venha com saúde".

Faz parte do trabalho dos obstetras assegurar exatamente isso. Por isso, quando estou a fazer uma ecografia morfológica tenho uma ordem estabelecida na minha mente para avaliar o bebé de uma ponta à outra sem perder pitada, e poder dizer no final do exame aos pais que, pelo que podemos ver,  "está tudo bem". É sempre desta forma que eu espero terminar um exame, o que infelizmente, nem sempre acontece. Há pequenas alterações que provavelmente não serão nada importante e que poderão desaparecer com o crescimento do bebé, e depois há outras bastante graves, que podem mudar tudo. É um momento de muita responsabilidade e é preciso tempo para avaliar todos os pormenores - e mesmo assim, há situações que não conseguimos diagnosticar durante as ecografias.

 

 

Claro que depois há sempre aquela parte do "quer saber se é menino ou menina, ou prefere que seja surpresa?". Na realidade, estou sempre à espera do tal "o que importa é que venha com saúde". Mas o que tem acontecido cada vez mais frequentemente é este ser o ponto fulcral do exame. 

Isto para explicar que por estes dias, o cenário de destaque na ecografia tem sido o sexo do bebé.

 

 

Casais que querem tanto um menino que vão na quinta gravidez, e assim que lhes confirmo que é outra menina, já estão a fazer contas para saber quando podem engravidar outra vez - e tentar na próxima vez uma técnica matemática complicada que envolve idades dos pais, mês da conceção e mais alguma coisa que já não me recordo, para se assegurarem que o próximo bebé será do sexo masculino. Isto porque já tentaram a teoria dos alimentos ácidos, fases da lua e o calendário chinês e nada resultou.

 

Ou a grávida que vai na sexta gravidez e que me diz logo no início da ecografia que só lhe interessa saber que é uma menina, porque já tem cinco rapazes em casa e o seu sonho desde criança é ser mãe de uma menina. Mesmo sendo daqueles bebés que mostra claramente que é um rapaz na primeira imagem, prefiro demorar-me a avaliar tudo antes de lhe dar essa notícia. E tento enfatizar a parte do "esta tudo bem com o seu bebé" mas ela só ouve o "é um menino". Diz-me imeditamente que a seguir vai juntar uma quantia exorbitante de dinheiro para ir a outro país e poder optar por uma técnica de reprodução medicamente assistida que lhe permite escolher o sexo do bebé. Passam-me pela mente todos aqueles casais que tiveram de ouvir más noticias em relação à saude do seu bebé, e volto a reforçar que o importante é que tem um bebé saudável. Mas ela continua focada no seu sonho de ser mãe de uma menina e não me ouve.

 

Na ecografia seguinte, volto a dar a nótícia errada - é uma menina, e o casal queria muito um menino. É o primeiro filho, mas não se imaginam com uma menina. Há lágrimas até. Volto a insistir no "muitos parabéns, têm um bebé saudável", mas não me ouvem.

 

Quando saem do consultório começo a achar que deviamos ter um livro de trocas de bebés - porque no final do dia, há espaço e amor para todos os bebés, mas parece que para todos estarem felizes seria preciso trocar as famílias.

E eu continuo a achar que o mais importante é que venham com saúde.

 

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Os miúdos precisam saber sobre sexualidade?

Avatar do autor , 08.11.17

Deparei-me há alguns dias com uma série de comentários na net sobre o facto de que as crianças estavam a falar de sexualidade muito cedo na escola. Estes pais questionavam o porquê de se falar a miúdos de 8 anos sobre o aparelho reprodutor, sobre engravidar e uma série de outras coisas, quando deviam estar a falar de "coisas importantes" (que suponho seriam todas as outras). Um verdadeiro coro de indignações.

 

Curiosamente, o que me parece a mim, é que os nossos miúdos não têm a formação adequada ou suficiente na área da sexualidade.

Eu explico melhor : apesar de serem uma geração com acesso a muita informação em vários meios de comunicação (desde internet , à televisão e revistas), os curriculos escolares não trabalham a educação sexual de acordo com o que eles necessitariam, nem os pais se sentem à vontade para explicar e esclarecer dúvidas. Quer na escola, quer em casa, a sexualidade pode e deve ser abordada, adaptada à idade da criança.

Na verdade, muitos de nós vêm a sexualidade como algo tabu. Foi o que nos ensinaram há muitos anos atrás. Muitos ainda pensam assim, e é preciso mudar mentalidades.

 

Para os mais incrédulos, está demonstrado que a sexualidade faz parte de quem nós somos, contribui para a nossa identidade ao longo da vida e faz parte do nosso equilíbrio físico e psicológico.

Falar de sexualidade não é só falar sobre sexo. É falar sobre emoções, sensações, sentimentos, amor!

 

E a sexualidade existe desde que nascemos até morrermos.

O bebé recém-nascido tem prazer em cada carícia e com a satisfação das suas necessidades básicas. Um bebé de nove meses descobre o corpo ao manipular os seus órgãos genitais. A partir dos dois anos, a criança auto-classifica-se no que diz respeito à sua identidade sexual – devendo poder fazê-lo sem que os pais forcem a escolha do cor-de-rosa ou do azul, se jogam à bola ou brincam às cozinhas e às bonecas. E tudo isto acontece antes mesmo da chegada da “idade dos porquês".

A maneira como os nossos filhos vão viver a sua sexualidade vai depender de uma série de fatores: dele próprio, das suas características, da família, do que aprende na escola, dos amigos, do ambiente sociocultural...E é na adolescência que se evidenciam os comportamentos socioafetivos e sexuais.

 

Mas porque não informar? A informação é poder.

Se uma menina de 8 anos tiver conhecimentos sobre o seu aparelho reprodutor, estará mais preparada para as mudanças que aí vêm. saberá que a partir do primeiro período menstrual o seu corpo está apto para uma gravidez. Estará informada e com conhecimentos para, nas várias etapas, viver a sua sexualidade de forma segura, com respeito por si própria e pelos outros.

 

No ano passado, a minha filha deu os aparelhos reprodutores (estava no 3º ano). Veio muito frustrada, porque, depois de darem a matéria, perguntou à professora "Mas afinal como é que o espermatozóide vai parar ao pé do óvulo para se formar o bebé?".

A resposta da professora foi "Acabaram-se as dúvidas em relação a esta matéria.".

Foi a mim que ela veio perguntar porque queria perceber e achava estranho a professora não responder. Expliquei a "mecânica" das relações sexuais e lembrei-lhe que nos animais também acontecia assim. A reação foi "Ah, afinal era só isso?".

Conversar sobre as coisas ajuda - explicar, e não fazer delas um tabu.

Depois desta conversa, comprei-lhe uns livros, e disse-lhe que se tivesse duvidas falávamos sobre o assunto. Acho que é uma boa estratégia e que pode ajudar muitos pais que não se sentem à vontade com este assunto.

(estes são os que ela leu:)

 

 

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Coisas que os pais aprendem quando vão a um parque aquático

Avatar do autor , 24.08.17

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Nos anos 90, quando pensava em parques aquáticos, pensava no OndaParque - quem se lembra?


Pensava num dia com uma mochila carregada de sandes, que acabávamos por comer no regresso a casa no autocarro, porque durante o dia não havia tempo.
Pensava em arranjar um sítio bom para as toalhas e nem as ver todo o dia, porque havia escorregas e piscinas e mil e uma coisas para nos entreter - e parar era morrer.
Pensava em creme Nivea - e depois outros - e um escaldão pela certa (porque pôr protector era uma coisa que consumia muito tempo na nossa perspectiva de adolescentes).
Pensava em amigas, namorados, beijos, rádios (daqueles tipo tijolo) com música a tocar alto. Coca-colas e pacotes de batatas fritas.
Pensava num dia em que andávamos repetidamente em todos os escorregas, principalmente nos maiores e mais assustadores, para mostrarmos que éramos os maiores e nada nos fazia medo. Ou simplesmente porque era tão bom, porque nos fazia aumentar a adrenalina, porque nos divertíamos.


E agora, tive de aprender toda uma nova filosofia - porque esta coisa da parentalidade também inclui leva-los nestas aventuras.
E uma visita a um parque aquático ganha toda uma nova dimensão.

 

Programa em família: Kidzania

Avatar do autor , 12.12.16

 

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Este domingo fomos, em família à Kidzania.

Foi a nossa primeira visita a esta cidade das crianças - e adorámos, todos!

É uma cidade construída à escala dos mais pequenos, onde eles podem brincar aos adultos, e escolher entre mais de 60 profissões! As atividades onde podem participar são simultaneamente divertidas e pedagógicas, e percebemos que os valores e regras de cidadania estão sempre muito presentes.

Na Kidzania, a moeda oficial é o kidzo, e para ganharem kidzos, os miúdos têm de trabalhar nas profissões que mais gostarem. Depois podem depositar o dinheiro no banco, gastá-lo em várias atividades ou fazer compras na loja dos kidzos.

 

O Pedro e a Mariana estavam maravilhados por poderem fazer tudo "como os crescidos" e experimentaram uma série de profissões:

 

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O Pedro quis ajudar a construir uma casa e adorou!

 

 

Prematuros - o desafio de nascer antes de tempo

Avatar do autor , 17.11.16

 

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Apesar de todos os esforços e melhorias nos cuidados de saúde, a prematuridade não tem diminuído nos últimos anos. Ser prematuro significa chegar antes de tempo, e é uma situação complicada para todos os envolvidos. Um desafio constante, para todos.

 

Para o bebé, que chegou cedo demais e ainda não está preparado para as agressões deste mundo. É preciso ficar numa incubadora, estar ligado a tubos e diversos aparelhos que tentam fazê-lo crescer o melhor possível. É preciso lutar todos os dias para conseguir respirar, para conseguir alimentar-se, para sobreviver fora do ambiente protetor e confortável que tinha na barriga da mãe.

 

Para os pais, que esperavam um bebé de termo, que fosse com eles para casa. Têm de enfrentar a angústia diária de ver o seu bebé com tubos, de não o poder ter sempre no colo, de não o conseguirem proteger deste mundo para o qual ainda não está preparado. A angústia do oxigénio, das gramas, de aprender a engolir. De o ver ser submetido a um sem fim de exames. A angústia de ter de ir para casa no final do dia, sem o seu bebé.

 

Para os profissionais de saúde, que trabalham com os pais e com os bebés.

Os obstetras, que têm o papel de ajudar estes bebés que precisam de nascer mais cedo a chegarem a este mundo da melhor forma possível. Que tentam sempre que os bebés cresçam o máximo tempo possível na barrigas das mães e que têm de decidir quando é mais seguro fazê-los nascer, sabendo dos riscos que isso implica (tão difícil, esta decisão)

Os neonatologistas e enfermeiros, que cuidam destes pequenos bebés, muitas vezes com apenas algumas centenas de gramas, de forma quase mágica. Que passam os dias  ao lado deles, atentos a todos os pormenores. Que nunca desistem. Que confortam bebés e pais. Que comemoram cada vitória como se fossem da família.

 

Sim, todos são grandes lutadores. É essa capacidade que está intimamente ligada à prematuridade, e que permite apreender a saborear cada conquista diária como uma grande vitória.

 

 

 

 

 

Sobre esta coisa de andar com o coração fora do peito

Avatar do autor , 20.05.16

Ter filhos é isto: andar em constante preocupação com os perigos da vida em geral, querer protegê-los de tudo o possível e imaginário e as mesmo tempo ajudar a ganhar asas para os seus próprios voos.

 

Não é nada fácil, e suspeito que não tem tendência a melhorar.

E vê-los doentes e não ter uma varinha mágica para os deixar curados em instantes é angustiante. (o R. diz sempre que devia ser proibido os filhos ficarem doentes, e eu concordo em absoluto)

 

Isto para dizer que ultrapassamos uma difícil semana de tosses, febres e manchas, com diagnósticos com nomes complicados, horas de sono perdidas, dias sem apetite.

Agora parece estar tudo a voltar ao normal. Até o sol e o calor resolveram, finalmente, dar um ar de sua graça. Que as boas energias venham para ficar!

 

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5 coisas que os pais deixam de fazer depois de terem filhos

Avatar do autor , 05.03.16

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Ter filhos é uma coisa fantástica - há momentos extraordinariamente belos, outros assustadores. Acima de tudo, sermos pais significa embarcarmos numa gigantesca aventura.

A verdade é que a vida muda por completo. E é quase certo que quando nos tornamos pais, há coisas que deixamos de fazer:

 

1. Nunca mais conseguimos dormir as horas que entendermos. Primeiro há um bebé que acorda de 3 em 3 horas, depois há miúdos madrugadores, chuchas perdidas durante a noite, pesadelos. E quando chega a sábado e achávamos que iamos dormir (finalmente!) até mais tarde, às 6:00 da manhã os miúdos já estão acordados e não descansam enquanto não levantam toda a família. Pais = dormir o que se pode, quando se pode.

 

 

A mãe é que sabe

Avatar do autor , 29.01.16

Aqui por casa estamos na fase "a mãe é que sabe".
Mal toca o despertador, a mãe é que sabe lavar a cara, a mãe é que sabe pentear.

Só a mãe é que sabe fazer o pequeno-almoço, só a mãe é que sabe preparar o lanche para a escola. A mãe é que sabe que hoje há ginástica, só a mãe é que sabe vestir os collants e ajeitar a camisa da farda da maneira certa.

A mãe é que sabe fazer a trança sem ficar torta, a mãe é que sabe vestir casacos e correr o fecho à altura ideal. A mãe é que sabe preparar as mochilas da natação, a mãe é que sabe ajudar a fazer os TPCs. A

mãe é que sabe fazer o jantar, contar a história para adormecer e dar os beijinhos especiais para terem bons sonhos.


E só a mãe é que sabe chegar ao fim do dia e adormecer no sofá, de cansaço.


Por isso, agora, assim que começa a conversa do "a mãe é que sabe!" , eu digo "Verdade, mas que tal ensinarem ao pai?" 😉

 

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