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Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Confissões de uma médica: quando a vida nos surpreende

Avatar do autor , 18.04.19

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Uma urgência, a altas horas da noite. Daquelas urgências caóticas em que o trabalho não pára. Chamo a próxima paciente, reparo pela ficha que é uma adolescente de 15 anos.

Vem com a mãe, encolhida, com as mãos na barriga. Não olha para mim, mas percebo que não está bem.

A mãe toma a palavra e diz-me que a filha está desde o jantar com fortes dores de barriga.  Que tem andado muito inchada, que pode ser uma apendicite. Não melhorou com os analgésicos que lhe deu. Está preocupada, mas na urgência geral não sabem o que pode ser, e como ela está no primeiro dia do período resolveram pedir uma avaliação em ginecologia.

A filha continua cabisbaixa e de vez em quando nota-se que tem dor. Como se fosse uma cólica. Reparo que parece ter algum peso a mais, mas mantém sempre os braços e as mãos a envolver a barriga. 

Pergunto se a posso observar, e quando se deita na marquesa percebo o que se passa. Ou pelo menos suspeito. Pergunto-lhe se tem tido o período todos os meses, responde-me que está menstruada. E namorado? A mãe diz imediatamente que não. Que nunca teve namorado e que não é como as amigas, que andam por aí sem terem cuidado. Pergunto-lhe se prefere que a mãe saia um bocadinho para ficar mais à vontade, mas diz que não.

Pouso a sonda do ecógrafo na barriga dela e pergunto se não nos quer contar nada, mas ela firmemente diz que não sabe do que estou a falar. Na imagem, vê-se algo a piscar. E depois uns dedos. E um pé.

A mãe fica a olhar para o ecrã sem perceber nada. A filha começa a chorar.

"Mas o que é que se passa com ela, doutora? Diga-me por favor,  que cada vez percebo menos! E porque é que ela está a chorar?". Tento que seja ela a contar à mãe, mas não consegue.

 

Lá acabo por explicar que a filha está grávida, e que pelo tamanho do bebé, pelas dores e por aquela pequena perda de sangue, parece estar a entrar em trabalho de parto.

A mãe fica em choque e sem reação. A miúda de 15 anos murmura repetidamente um "desculpa, desculpa" e eu fico a tentar perceber o que posso fazer para ajudar naquele momento. É daquelas coisas que não têm um guião, que mexem com confiança, com o nosso papel de mães, com a responsabilidade de cada um,  com uma nova vida no mundo.

 

E no meio de uma noite agitada e de uma mãe e filha em choque, chega mais uma linda menina ao mundo, indiferente a todo o caos à sua volta, saudável e a chorar vigorosamente.

 

 

Especialmente para vocês

Avatar do autor , 12.04.18

Finalmente já o posso mostrar.

Um livro escrito especialmente para todas as mulheres, nas diversas fases da vida.

Um livro com as respostas às perguntas que sempre quiseram fazer ao vosso médico mas nunca tiveram coragem!

Um livro com dicas sobre saúde, alimentação, exercício, sexualidade, contraceção e muito mais, escrito numa linguagem acessível, para todas as mulheres.

 

E porque os leitores do blog são especiais, são os primeiros a conhecê-lo:

aqui está O Livro da Mulher!

 

Se o encomendarem em pré-venda aqui, vão recebê-lo personalizado, com o meu autógrafo e uma dedicatória especial.

 

Espero que gostem, foi escrito com muito amor e carinho, para que possa fazer a diferença na vida de todas as mulheres, desde a infãncia à adolescência, idade adulta, gravidez e pós-parto e menopausa!

 

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A pílula interfere com o desejo sexual?

Avatar do autor , 02.03.18

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Sabe-se que o desejo feminino está dependente da sua produção de testosterona, que não é uma hormona exclusivamente masculina.

A verdade é que alguns contracetivos hormonais, ou seja, a pílula, nalgumas mulheres, parecem baixar o nível de testosterona livre (a que está em circulação no sangue), levando a que a libido diminua.

 

Na maior parte dos casos, basta mudar para uma pílula com outra composição para que a mulher sinta que voltou a ser quem era.

 

 

 

 

 

 

 

Os miúdos precisam saber sobre sexualidade?

Avatar do autor , 08.11.17

Deparei-me há alguns dias com uma série de comentários na net sobre o facto de que as crianças estavam a falar de sexualidade muito cedo na escola. Estes pais questionavam o porquê de se falar a miúdos de 8 anos sobre o aparelho reprodutor, sobre engravidar e uma série de outras coisas, quando deviam estar a falar de "coisas importantes" (que suponho seriam todas as outras). Um verdadeiro coro de indignações.

 

Curiosamente, o que me parece a mim, é que os nossos miúdos não têm a formação adequada ou suficiente na área da sexualidade.

Eu explico melhor : apesar de serem uma geração com acesso a muita informação em vários meios de comunicação (desde internet , à televisão e revistas), os curriculos escolares não trabalham a educação sexual de acordo com o que eles necessitariam, nem os pais se sentem à vontade para explicar e esclarecer dúvidas. Quer na escola, quer em casa, a sexualidade pode e deve ser abordada, adaptada à idade da criança.

Na verdade, muitos de nós vêm a sexualidade como algo tabu. Foi o que nos ensinaram há muitos anos atrás. Muitos ainda pensam assim, e é preciso mudar mentalidades.

 

Para os mais incrédulos, está demonstrado que a sexualidade faz parte de quem nós somos, contribui para a nossa identidade ao longo da vida e faz parte do nosso equilíbrio físico e psicológico.

Falar de sexualidade não é só falar sobre sexo. É falar sobre emoções, sensações, sentimentos, amor!

 

E a sexualidade existe desde que nascemos até morrermos.

O bebé recém-nascido tem prazer em cada carícia e com a satisfação das suas necessidades básicas. Um bebé de nove meses descobre o corpo ao manipular os seus órgãos genitais. A partir dos dois anos, a criança auto-classifica-se no que diz respeito à sua identidade sexual – devendo poder fazê-lo sem que os pais forcem a escolha do cor-de-rosa ou do azul, se jogam à bola ou brincam às cozinhas e às bonecas. E tudo isto acontece antes mesmo da chegada da “idade dos porquês".

A maneira como os nossos filhos vão viver a sua sexualidade vai depender de uma série de fatores: dele próprio, das suas características, da família, do que aprende na escola, dos amigos, do ambiente sociocultural...E é na adolescência que se evidenciam os comportamentos socioafetivos e sexuais.

 

Mas porque não informar? A informação é poder.

Se uma menina de 8 anos tiver conhecimentos sobre o seu aparelho reprodutor, estará mais preparada para as mudanças que aí vêm. saberá que a partir do primeiro período menstrual o seu corpo está apto para uma gravidez. Estará informada e com conhecimentos para, nas várias etapas, viver a sua sexualidade de forma segura, com respeito por si própria e pelos outros.

 

No ano passado, a minha filha deu os aparelhos reprodutores (estava no 3º ano). Veio muito frustrada, porque, depois de darem a matéria, perguntou à professora "Mas afinal como é que o espermatozóide vai parar ao pé do óvulo para se formar o bebé?".

A resposta da professora foi "Acabaram-se as dúvidas em relação a esta matéria.".

Foi a mim que ela veio perguntar porque queria perceber e achava estranho a professora não responder. Expliquei a "mecânica" das relações sexuais e lembrei-lhe que nos animais também acontecia assim. A reação foi "Ah, afinal era só isso?".

Conversar sobre as coisas ajuda - explicar, e não fazer delas um tabu.

Depois desta conversa, comprei-lhe uns livros, e disse-lhe que se tivesse duvidas falávamos sobre o assunto. Acho que é uma boa estratégia e que pode ajudar muitos pais que não se sentem à vontade com este assunto.

(estes são os que ela leu:)

 

 

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