Desafio Bloggers e Gravidez IV
, 31.03.13
Há quem diga que trocar experiências é terapêutico. E que ajuda muito a perceber que cada gravidez, parto e puerpério são únicos.
Por isso, o Café, Canela & Chocolate continua o Desafio Bloggers e Gravidez - desta vez vamos conhecer a experiência da Luana do Little M, da Catarina, Dias de Uma Princesa, e da Pólo Norte, Mãegyever.
1- Gravidez normal ou de risco?
Luana, Little M -Normal
Catarina, Dias de Uma Princesa - Duas gravidezes completamente normais. No meu primeiro filho tinha 24 anos e aos 6 meses mandaram-me abrandar porque tinha muitas contrações e a tensão alta, mas em duas semanas voltei à ação. Do meu filho pequeno, gravidez aos 33 anos, só me lembrava que estava grávida porque estava enorme.
Pólo Norte, Mãegyever - De alto risco, desde o início.
2-Gravidez passada a trabalhar ou de repouso?
Luana, Little M - A trabalhar até às 28 semanas, quando o inchaço das pernas já não permitia que eu conseguisse realizar as mesmas tarefas.
Catarina, Dias de Uma Princesa - Trabalhei nas duas gravidezes o tempo todo. Quando estava grávida do Gonçalo ainda estava na faculdade e depois fiz um verão inteiro como coordenadora de campos de férias: andei de bicicleta, acampei… Na última gravidez como estava numa loja e a escrever, sentada e quieta, não me apetecia.
Pólo Norte, Mãegyever - A trabalhar uma média de 12 horas por dia, como era apanágio antes de engravidar, durante os primeiros cinco meses. Depois de um susto, em Maio, passei o resto da gravidez de repouso. Absoluto. O que para uma tipa hiperactiva foi osso duro de roer. Passei da conviccão de que a gravidez deveria acompanhar a minha vida normal para a constatação de que, afinal, a minha vida teria que se ajustar a uma gravidez. "Toma, embrulha e leva para casa".
3- Diga um alimento que deixou de conseguir comer durante a gravidez e um que se tornou mais apetecido.
Luana, Little M - Não deixei de comer nadinha. Aliás, era capaz até de comer tijolos. lol. Descobri o amor pelos doces, que antes não me diziam nada. Esta paixão ficou comigo.
Catarina, Dias de Uma Princesa -Não deixei de comer nada. Evito sempre as saladas em restaurantes que não conheço bem, mas faço o mesmo não estando grávida. Eu sou muito comilona e tenho, naturalmente, muitos desejos. A única coisa “estranha” é apetecer-me o sabor do vinagre.
Pólo Norte, Mãegyever - Durante os primeiros três meses deixei de comer tuuuudo. Até água eu vomitava. Uma alegria!
Sou uma gulosa até à quinta casa e, durante, a gravidez deixou de me apetecer comer doces. O açúcar enjoava-me. O pão também deixou de ser um alimento apetecível e, vai-se a ver, se não se comer doces nem pão, emagrece-se. Foi o que aconteceu comigo: nunca emagreci tanto e tão depressa como na gravidez. O meu metabolismo deve ser ficado todo choné.
Para tornar a coisa mais cómica só me apetecia comer fruta. E tomate.Eu- imagine-se!- que não sou nada do género de pessoas que faz uma alimentação regrada. Andava louca por comer tomate crú, não temperado, à dentada. Foi irónico porque, sem qualquer imposição ou esforço, a minha dieta passou a ser, de forma natural, super saudável e equilibrada. E isso reflectiu-se numa gravidez de 34 semanas, em que aumentei apenas 4,200 Kg. Correu mesmo, mesmo bem a questão alimentar!
4- Fez exercício durante a gravidez? Que tipo?
Luana, Little M - Não...uma ou outra caminhada, de longe a longe.
Catarina, Dias de Uma Princesa - Não. Ando sempre muito a pé e tento andar ainda mais.
Pólo Norte, Mãegyever - Sim: mapling, zapping e interneting. Mexia o rabo da cama para o sofá, do sofá para a cama e, de forma muito frequente- na loucura!- com desvios regulares em direcção à casa de banho. Os dedos foram, igualmente, muito exercitados com a prática no comando de televisão e no teclado do computador. Um must!
5- A gravidez fez com que mudasse hábitos do dia-a-dia?
Luana, Little M - Mudou muita coisa, porque a minha vida passou a girar à volta da comida e da bebé. Lol. A falar a sério mesmo, penso que só alterou a minha rotina mais para o final, quando eu já estava com uns bons 20kg a mais, e muito cansada.
Catarina, Dias de Uma Princesa - A única coisa que a gravidez muda é deixar de beber bebidas alcoólicas. Mas não bebo café, nem fumo, nem qualquer outra hábito incompatível.
Pólo Norte, Mãegyever - A culpa foi da minha família onde "a tua tia trabalhou até ao dia em que pariu a tua prima e ainda fez horas extra na fábrica porque estavam com um pico de trabalho" e " a tua bisavó pariu o teu avô no campo, enquanto debulhava milho, cortou o cordão umbilical com os dentes, embrulhou-o numa mantinha e quando o teu bisavô chegou a casa para almoçar já ela lá estava com o menino e o almoço na mesa!". Custou perceber que era " a flor de estufa" da família.
Quando me diziam que as minhas prioridades iriam mudar, eu acenava com a cabeça e não ligava. Mas mudaram, mesmo! Quando fiquei de repouso absoluto, a única coisa que queria era que a Ana nascesse bem, forte e saudável. Feliz, de preferência. E, embora tenha sempre confiado no ADN (eu e mámen somos uns fixes mesmo!) percebi mesmo que tinha que contribuir. Que tinha que parar de viver a minha vida grávida e aproveitar para viver a minha gravidez vivida! Com tempo, calma, sol, sonos em dia, músculos relaxados e sorrisos. Sem compromissos, outlooks, mails de clientes, chamadas e telefones sempre a tocar e stress. O futuro, o negócio, a carreira são importantes, com certeza. Mas a minha filha e a minha família passaram a estar acima de tudo isso.O futuro passou a ser a Ana, não as propostas, o CRM, as reuniões, a facturação.
Portanto, foi a hora de viver a minha gravidez a tempo inteiro e preparar a minha maternidade. Mudou tudo: passei a ser uma "full time pregnant". Deixei de trabalhar, deixei de poder sair de casa em horas de calor e por períodos prolongados, deixei de poder fazer qualquer tipo de esforço, durante uns meses deixei de poder praticar o sexo louco e desenfreado e passei a beber 3 litros de água por dia. Uma lindeza!
6 - Qual foi a coisa que mais gostou da gravidez?
Luana, Little M - Adorava ter a minha M cá dentro. Era um prazer indescritível. Falar com ela, cantar...nunca me vou esquecer daquela sensação. Para além disto, comer era algo absolutamente fantástico. Um prazer enorme mesmo.
Catarina, Dias de Uma Princesa - O primeiro mês depois de saber que estou grávida é detestável: enjoos indescritíveis. Depois adoro tudo. Sinto-me enorme e luminosa. Aquilo de que sinto sempre saudades é sentir o bebé.
Pólo Norte, Mãegyever - Foram duas coisas: a primeira parte-a da concepção, e a do fim- o parto. No meio foi engraçado descobrir que estava grávida, contar a novidade ao Mundo, ouvir o coração na ecografia pela primeira vez e sentir a bebé mexer-se na minha barriga. De resto, estar grávida foi, seguramente, uma experiência muito, muito pouco positiva. Estado de graça? No meu caso, estado de desgraça. Total.
7- Como foi o parto? Se pudesse escolher o tipo de parto, o que teria escolhido?
Luana, Little M - Por uma série de razões, não foi natural. A bebé não encaixou, não tive nenhuma dilatação, ela estava enrolada 2 vezes no cordão umbilical, e às 38 semanas, tive a placenta envelhecida e ela perdeu um pouco de peso. Ou seja, teve mesmo de nascer. Confesso que tinha dúvidas e tive muito medo da cirurgia, mas foi tudo mágico e gostei da experiência. E tive um pós-parto maravilhoso. Praticamente sem dores. Cheguei da maternidade, e já estava de gatas a arrumar tudo.
Catarina, Dias de Uma Princesa - Os meus dois partos foram muito intensos e felizes. O Gonçalo nasceu HGO, em Almada, sem epidural. Com direito a aventura porque previ ter no hospital do SAMS mas não havia cama, quando voltei para Almada a ponte estava cortada e fomos escoltados pela polícia. O pai do Gonçalo esteve sempre comigo, entre as primeiras contrações e o ter o Gonçalo no meu peito passaram 6 horas. O Afonso nasceu na MAC onde cheguei de táxi sozinha às 3h da manhã. Sem epidural mas muito consciente e a minha mãe ao meu lado nos últimos minutos. Nasceu às 5h da manhã e foi a experiência mais intensa da minha vida. Foi muito bonito. Se pudesse escolher queria exatamente os partos que tive mas queria quartos em total silêncio para passar os dois dias seguintes.
Pólo Norte, Mãegyever - O parto foi de cesariana electiva. Depois de duas pileonefrites, teve que ser provocado. A cesariana passou a ser uma realidade a partir da primeira pielonefrite e das infecções urinárias que se seguiram e que adivinhavam um desfecho preocupante. Na prática, a prioridade passou a ser deixar a bebé ganhar maior maturidade e maior peso para se poder proceder à cesariana e assim aconteceu, às 34 semanas, depois das injecções para induzir maturidade pulmonar. O parto foi fantástico, com ua anestesia ráqui (não posso levar epidural), com a melhor obstetra do Mundo (salvé Dra. Guilhermina Ladeira!) e uma experiência indescritível de boa. Um misto de alívio por ver cessar o período da gravidez e de deslumbramento por acolher a Ana.
Claro que se pudesse ter escolhido teria escolhido o parto natural mas, por antecedentes clínicos, desde sempre soube que nunca iria experenciar essa realidade, pelo que, nem sequer pensei nessa hipótese. Mas, claro, que a considero a situação ideal.
8- Era capaz de ter um parto em casa?
Luana, Little M - Não, não e não. Gosto da segurança, e seria incapaz de ter um bebé num sítio que não reunisse todas as condições para o receber da melhor forma.
Catarina, Dias de Uma Princesa - Seria incapaz de ter partos em casa. Primeiro, pode parecer coisa de malucos, mas ia estar sempre a pensar que estava a sujar tudo. Segundo porque nesses momento preciso de médicos à minha volta. Não quero que tornem o parto num momento frio mas preciso do ambiente hospitalar para estar tranquila.
Pólo Norte, Mãegyever - "Jamé, Salomé!". Eu sou pela medicina tradicional a mil por cento. Eu não conseguiria confiar numa doula nem numa enfermeira parteira (respeito em quem confia mas é uma solução que não me serve a mim). Talvez devido ao meu historial clínico eu só confio em médicos. E em hospitais, com pessoal especializado, com instrumentos, ferramentas e meios próprios e que só existem em ambiente hospital. Eu preciso de um ambiente hospitalar e de uma equipa clínica especializada para me sentir segura e confiante no momento do parto.
A ideia de ter um bebé em casa fascina-me tanto como a do pai assistir ao parto: zero. Para mim, o parto é um momento clínico (eu sei, é uma forma de pensar pouco romântica mas é a minha...), que diz respeito à mãe como emissor, ao bebé como receptor e à equipa médica como facilitador. Ir para casa? Só depois de verificar se tudo está em conformidade: choros, palmadas para chorar, índices de apgar devidamente confirmados, equipa de neonatologia a picar o ponto, enfermeiras a ajudarem, a ensinarem os primeiros cuidados básicos, primeira noite com uma campaínha pronta a poder ser tocada se houver alguma ansiedade e tudo e tudo.
9- Gravidez ou puerpério - o que é melhor?
Luana, Little M - Ambos. Tive bons e maus momentos durante as duas situações.
Catarina, Dias de Uma Princesa - São experiência incomparáveis. A gravidez é maravilhosa mas é um momento quase inconsciente, “está tudo bem porque te protejo”. O puerpério é um misto de sensações, entre o corpo cansado e estranho, o estado de paixão louca e o medo (eu fico com muito medo nos primeiro dias) que alguma coisa corra mal.
Pólo Norte, Mãegyever - Puerpério. Assim, sem pensar duas vezes. A maravilha de ter um bebé a sair-nos das entranhas. O medo de pernoitar pela primeira vez com um recém-nascido. A descoberta dos códigos de choro dos sinais, expressões faciais minúsculas. O interiorizar o ser mãe. A robustez de se solidificar uma família. Uma família parida por nós. A chegada a casa a três. O espelho de bolso a embaciar com o seu respirar e o ridículo do meu medo. O sono mais leve, o ouvido sintonizado com os seus lábios, o seu mais pequeno movimento. As minhas mãos a engolirem as suas. O seu cheiro a caramelo. A magia do primeiro sorriso. Os olhos mais abertos, mais valentes e mundanos, mais atentos e vivos. A confirmação que o amor nasce com ela e cresce com ela, também. A sua existência a fazer cada vez mais sentido. A novidade a passar ao conforto e à serenidade da rotina. A tentativa-erro da maternidade. A confiança a enxotar. devagarinho, o medo. A sua voz em experiência. Os seus olhos cada vez menos olhos, mais faróis. O sorriso direccionado, dedicado. O fascínio pelo som, pela música, pela minha voz. A firmeza do seu tronco, cada vez mais hirto, cada vez mais perto de dar flor. O mesmo cheiro a caramelo, talvez chocolate, doçura sem fim. O brincar com o corpo, o seguir cada movimento, o adormecer encostada, pele a pele, a mim, como se quiséssemos recuperar tempos embrionários. O respirar fundo quando se deita no meu colo, como se fosse uma esteira de amor. O crescimento medido com uma roda alimentar. A colher a lembrar-me que o amor vem aos pedaços. O primeiro Natal em que reencarnou na menina Jesus. As luzes e a magia do papel colorido. A ternura com que contagia todos e cada um. O cimentar da certeza que estávamos incompletos antes dela como se a vida fosse um puzzle menos colorido sem a nossa filha. O poder avassalador de uma gargalhada. O entendimento cada vez mais seguro e firme entre nós. O respirar fundo pela sensação de domínio na matéria, a segurança de que se ser mãe aprende-se rápido, sistematiza-se com facilidade e vive-se de forma cada vez mais inata e natural. Os seus olhos que podiam ser de leite mas são de maresia, agora é certo, olhos de Atlântico, das ilhas dos seus antepassados piratas. A magia das primeiras histórias de contar e o fascínio pela caixa de música que lhe deu uma fada. Uma fada-madrinha. O paladar acompanhado com a onomatopeia do prazer. O reconhecimento das caras familiares, a preferência por algumas pessoas. Os primeiros traços de personalidade a darem de si. O sair à mãe. O sair ao pai. O não sair a ninguém e a entrar, cada vez mais, em si. A expressão mais vincada, menos bebé. O cabelo a crescer, fios de oiro minhoto. O ser cada vez mais ela, mais inteira, mais nossa. A certeza de que aqui vai ser feliz. De que aqui nos faz felizes. O sentir no plural. O partilhar de todos os códigos, o conhecimento mútuo, as manhas, os vícios, os gostos, o conhecê-la de olhos fechados. A alegria ao acordar. As gargalhadas dobradas, sinos que nos chamam a celebrá-la. As mãos papudas, o nariz redondinho, os olhos que transbordam serenidade. A paz. A vi(n)da da Ana foi um dilúvio em nós. Um dilúvio de amor. E só passaram 7 meses...
10- Amamentou? Porquê?
Luana, Little M - Sim, por 4 meses. Para mim, era impensável que não o fizesse. Para além disto, adorei amamentar. Não tive problemas, e depois que apanhei o jeito, descobri que aqueles momentos eram únicos e de puro amor.
Catarina, Dias de Uma Princesa - Amamentei e amamento. Amamentei o Gonçalo até aos 14 meses. Desisti porque estava demasiado cansada e fui influenciada. Não foi por a maminha ter acabado que as noite se tornaram melhor... O Afonso tem 20 meses e ainda mama, mama muito. Amamentar é o resumo daquilo que sinto como mãe. É uma intimidade única. Acredito que amamentar é muito mais que dar o melhor alimento do mundo. De uma forma prática: é fácil de dar, é um alimento perfeito e cala-o em menos de dois segundos. Ah! E emagrece.
Pólo Norte, Mãegyever - Não. Preparados? Por opção. Pronto, já disse. Poupem-se as pessoas que estão já de dedos no teclado a quererem-me esclarecer sobre a cartilha de benefícios da amamentação que eu conheço de cor: o poderoso factor imunológico do leite materno, a vinculação (discutível a meu ver e olhem que eu sou psicóloga e o pai da cria pedopsicólogo, tá?) afectiva que se cria nos momentos de amamentação, a portabilidade e acessibilidade das mamas no que diz respeito ao transporte do leite, a melhoria do desenvolvimento neuro-psicomotor infantil e cognitivo, o possível aumento do QI (ainda bem que a minha mãe não me amamentou senão imaginem a sobredotada incompreendida que eu seria?!), a promoção de um melhor padrão cardio-respiratório durante a alimentação, a diminuição mais rápida do volume do útero e consequente emagrecimento por parte da mãe, o menor risco de hemorragia no pós-parto e, claro, o factor anticoncepcional da amamentação. Para não falar do factor economicista da coisa. Pronto, agora que vos provei que conheço, de cor, as vantagens da amamentação vou repetir: não amamentei por opção. E só teria mudado de ideias caso a obstetra me tivesse dito, peremptoriamente, que a vida da minha filha ficaria comprometida se não o fizesse. O que não foi o caso.
E, sim, poderia disfarçar e dizer que "não pude amamentar" e que tenho muito desgosto por isso. Que, assim que pari, tive que tomar um antibiótico fortíssimo para curar a pielonefrite que me ia matando e que, devido à gravidez, não pude tomar. E que não o poderia tomar se também tivesse amamentado. E esse argumento até é verdadeiro.
Mas a verdade, a verdadinha, é que nunca fiz intenções de amamentar. Por inúmeras razões que vão desde as fúteis e estéticas às de comodismo. Às de egocentrismo e incapacidade de abnegação total. Às de necessidade de não anular o meu bem estar emocional em troca de leite directamente vindo da fonte para a minha filha. E, porque, fundamentalmente, é uma decisão passiva de ser uma escolha e há alternativas em que eu acredito. E escolhia-as, conscientemente.
Eu própria não fui alimentada a mama (secou o leite à minha mãe) e sobrevivi à prematuridade, a 1600 Kg de peso à nascença, a uma doença gravíssima, a uma cirurgia com 15 dias de idade no Hospital Pediátrico de Coimbra (salvé, Dr. Torrado da Silva!) porque na Estefânia se recusaram a operar-me e a uma meningite no pós-operatório. Tirando as sequelas que ficaram (ortopédicas e urológicas) eu sou aquela que nunca ficou constipada, nunca teve uma dor de ouvidos ou garganta. Sou a pessoa mais resistente que possam imaginar! Quanto à vinculação com a minha mãe? Esta dispensa explicações.
Resumindo: eu sou a prova provada que, embora o leite materno seja a situação ideal (sim, em termos clínicos, é a situação ideal!), o leite adaptado não compromete o desenvolvimento de uma criança e o seu sucesso enquanto adulta.
A Ana é alimentada, desde que nasceu, a leite adaptado. Não depende de mim de três em três horas mas sim de ambos os pais. Porque, depois da gravidez, passámos a ser uma equipa. E tem criado uma relação igualmente vinculativa com ambos os progenitores e não uma privilegiada comigo. E, sabem que mais, para mim a parentalidade só assim faz sentido.
O plano foi, fundamentalmente, eu poder aliviar as 34 semanas de uma gravidez traumática (anote-se: infecções urinárias de repetição, duas pielonefrites, obrigatoriedade de eliminação vesical de 45 em 45 minutos, noite e dia, e, consequente, privação do sono durante meses) e não perpetuar a falta de descanso, o desgaste emocional, a responsabilidade exclusiva, com a amamentação. Assim, posso dormir sempre que é a vez do pai lhe dar o biberão. Nunca stressei com a responsabilidade da Ana depender exclusivamente de mim. E são vezes igualmente repartidas porque, nesta família, o bebé não é da mãe e ao pai não cabe apenas a tarefa de "ajudar".
O plano foi não correr o risco de stressar com possíveis dores, encaroçamentos e frustrações do bebé não "pegar" nas ditas cujas. Estava demasiado esgotada emocionalmente devido a uma gravidez desgastante para ter recursos emocionais e energia para embarcar no desafio da amamentação. Assim, posso usufruir de tempo com a minha filha devido à rapidez com que ela se alimenta. Controlo a quantidade de leite que ela bebe e esse factor livra-me de ansiedade (ainda mais ela é prematura). A minha rede social de suporte pode ajudar-me com a Ana sempre que necessário, sem que ela dependa exclusivamente de mim para se alimentar. E, especialmente, não tenho que fazer algo que encaro como sacrifício e não como prazer. Ou, como escreveu alguém numa caixa de comentários do meu blog: "mais vale um biberão com amor do que uma mama com sacrifício".
Não condeno as escolhas de nenhuma mãe. Por mim, tirem fotografias às barrigas, tenham partos em casa, dispensem médicas e contratem doulas, comam placenta, tenham partos debaixo de água, façam cesariana por opção, dispensem epidurais, amamentem até à adolescência, usem leite materno para fazer bolos, coloquem as fotografias dos vossos filhos na Internet. Cada um sabe o que é melhor para si e o que eu valorizo não tem que ser o que os outros valorizam. Não temos que nos reger todos sob a mesma batuta. Importante é que as escolhas que cada um toma sirvam a cada um, que lhes proporcionem bem estar e felicidade. Portanto, quando alguém me pergunta porque não amamentei resposta é simples:"PORQUE NÃO QUIS!".
O que eu quero é usufruir, com a alegria que as escolha que faço (fazemos) me proporcionam, a maternidade. E Até agora tem corrido bem. Arrisco dizer, tem sido perfeito.