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Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

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Perguntas da Mãegyever : dúvidas sobre a gravidez

Avatar do autor , 30.09.13

Resolvi re-editar este post da Maegyver, a pedido de algumas grávidas. Ela fez-me algumas perguntas, dúvidas que lhe surgiram durante a gravidez e que gostava de ver esclarecidas e aqui ficam as minhas respostas. 
(podem ver o post original aqui)



1- A imunidade à toxoplasmose contempla umas mulheres e não outras porquê? O contacto regular com animais favorece a imunidade? Quem não é imune pode continuar a ter animais de estimação? Para além de não mexer nos cocós dos bichos pode-se fazer festinhas, etc ou todo o contacto deve ser evitado? As saladas podem ser levadas só com água e vinagre ou tem mesmo que se comprar aqueles produtos xpto para se lavar os legumes crus?

A questão da imunidade tem a ver com o contacto com o agente, o toxoplasma, e a resposta do organismo. A infecção (e consequente imunidade) faz-se através da ingestão do toxoplasma, que pode estar presente na carne crua, na terra ( e consequentemente nos legumes mal lavados) e no pêlo do gato, que é um dos hospedeiros do agente, assim como o porco. 

Estar imune ou não...é uma questão de probabilidade. 
A seroprevalência em Portugal é entre 64-35%. Há quem tenha gatos toda a vida e mexa regularmente em terra e não se infecta, e portanto, não está imune. E a maior parte das pessoas infecta-se e não tem sintomas. 
O problema é mesmo ficar infectado durante a gravidez - o toxoplasma pode provocar alterações em vários órgãos do feto.
Isto não significa que se deixe de ter animais de estimação. 
Significa que os cuidados de higiene devem ser reforçados: lavar muito bem as mãos depois de fazer festinhas aos gatos lá de casa, usar luvas para limpar a caixa da areia, usar luvas para fazer jardinagem ou para manipular carne crua. 
A carne deve ser sempre bem passada, para nos assegurarmos que o toxoplasma morre e em relação aos legumes, muito bem lavados em água corrente. Eventualmente podem depois ser lavados com água e vinagre. 
Em relação aos outros produtos para lavar legumes e frutas, as opiniões variam, na minha perspectiva são mais químicos numa fase sensível e por isso penso que não será necessário. 
Mas o que costumo recomendar às grávidas não imunes à toxoplasmose é para só comerem legumes/frutos crus em casa, para se assegurarem que são bem lavados. 
Fora de casa, o melhor é optar por legumes cozinhados.


2- Pode-se pintar o cabelo? O amoníaco presente nas tintas para os cabelos pode entrar na corrente sanguínea e prejudicar o bebé? E os alisamentos japoneses, permanentes e afins? O que é possível fazer-se pela beleza capilar enquanto se está grávida e o que é proíbido?
Tudo o que é produto químico ( e leia-se estranho ao organismo) pode interferir com o funcionamento do mesmo. E quando temos o nosso bebé na barriga, o nosso sangue circula para o alimentar, e portanto, tudo o que circula na nossa corrente sanguínea poderá chegar ao feto (há substâncias que passam a placenta, outras não). De qualquer forma, há poucos estudos em grávidas relativamente à segurança para o feto de várias substâncias. E como temos pouca informação relativamente à tinta para o cabelo, o mais sensato será recomendar não o fazer no período mais sensível da embriogénese (1ºtrimestre) e depois optar pelas mais "suaves" ou seja, evitar amoníaco e optar por tintas mais naturais. Também o alisamento japonês utiliza químicos sobre os quais não se sabe se influenciam a gravidez...portanto, talvez seja melhor evitar. Mas pode e deve-se ter um cabelo bonito e bem cuidado, basta evitar tratamentos com químicos nocivos.


3- E pintar-se as unhas? Porque é que há o mito de que se deve evitar pintas as unhas
Este é mesmo mito. Mas talvez no puerpério seja de evitar, pelo cheiro activo que pode deixar, numa altura em que o cheiro da mãe é muito importante para o recém-nascido.


4- Banhos de imersão? Pouco recomendados, proibidos ou permitidos? Porquê? O que é essencial saber-se sobre banhos durante a gravidez?
Não há grande fundamento científico para proibir banhos de imersão na gravidez. Se a temperatura for adequada (excessivamente quente está contraindicado) e os produtos do banho forem suaves, um banho de imersão relaxa (desde que não haja contra-indicações médicas). Devem-se evitar irrigações vaginais, para não modificar o pH da vagina e predispor a infecções.


5- Os "desejos" são um mito ou existe mesmo uma predisposição metabólica ou uma necessidade real do organismo para consumir determinados alimentos? Conta-nos tudo sobre desejos (mesmo que isso nos tire trunfos de caprichos perante os nossos maridos).

O ambiente hormonal da gravidez pode predispôr a náusea e vómitos, em particular no primeiro trimestre. E hormonas como a progesterona e a prolactina influenciam o pH da boca e muitas vezes fazem com que a grávida passe a apreciar certos alimentos que até nem ligava e a detestar outros (os chamados "desejos"). Também há teorias que dizem que as carências nutricionais levam a que o nosso cérebro de grávida nos leve a consumir determinados alimentos, para preencher essas carências.


6- As barrigas adquirem mesmo formas diferentes consoante o sexo do bebé? Há evidências clínicas científicas que prevejam o sexo do bebé pela forma das barrigas, peles sem borbulhas ou outros indicadores passivos de serem observados a olho nu?
Evidência científica : zero! Felizmente existe a ecografia. Não se fiem em formas de barriga ( a forma depende de muitos factores, desde a elasticidade da pele ao tónus muscular, à posição do feto, ao líquido amniótico....etc) e a pele também não nos diz grande coisa. O estado de gravidez, é um estado de graça, mas também um estado de elevada turbulência hormonal - e isto nalgumas pessoas traduz-se em borbulhas e alterações cutâneas marcadas, noutras a pele fica esplendorosa (independentemente de terem uma menina, menino, ou os dois!).


7- Os testes de gravidez tem fiabilidade quase total. No entanto, há pessoas cujos testes dão negativo e que estão mesmo grávidas. Como se explica? Não há mesmo falsos positivos, isto é, uma vez um testo positivo, a probabilidade de não haver gravidez é quase nula?
Os testes têm um limite: ou seja, só detectam gravidez quando a hormona da gravidez, a beta-HCG começa a subir para valores acima de 30ml/U, por exemplo (este limite depende do teste). Ora se o teste for feito muito cedo, pode já haver beta-HCG em circulação, mas numa concentração mínima - logo, o teste pode dar negativo. Por isso, se o período não aparecer, o teste deve ser repetido alguns dias depois: sabemos que numa gravidez evolutiva, esta hormona duplica a cada 48h.
Já o contrário é muito pouco frequente, mas pode haver situações (raras) em que esta hormona aumenta e dá um falso positivo para gravidez.


8- Como se explica que algumas mulheres grávidas continuem a ter menstruação durante alguns meses já depois de engravidarem?
Nesses casos, não estaremos a falar de menstruação, mas sim de uma ameaça de aborto, ou de outra complicação do início da gravidez (gravidez ectópica ou molar).
E muitas das mulheres que dizem "continuar a ter o período" são mulheres que por desconhecerem estar grávidas, continuaram a tomar a pílula, e essa toma de hormonas exteriores condiciona nalguns casos perdas muito escassas de sangue (que param assim que descobrem a gravidez e param a pílula).


9- Para uma mãe fumadora, com muitas dificuldades em deixar de fumar, é mais nociva a ansiedade inerente à quebra do consumo de tabaco ou a nicotina que entra na corrente sanguínea através de um consumo (ainda que mais refreado)?
O tabaco, sem dúvida, é mais prejudicial - a fumadora tem mais dificuldade em engravidar, e , quando grávida, tem maior probabilidade de aborto, de ter uma gravidez ectópica, de ter um bebé mais pequeno, de ter um parto antes do tempo e mesmo de ter uma morte fetal. Já para não mencionar os riscos para a grávida de cancro do pulmão, esófago e outros.
A gravidez é uma óptima altura para se deixar de fumar, pelo melhor motivo do mundo: o nosso filho!


10- Um copo de vinho é mesmo proibido? Qual a posição relativamente ao álcool na gravidez, desde que consumido em doses homeopáticas?
Está demonstrado que o álcool em excesso na gravidez origina o chamado Síndrome Fetal Alcoólico, ou seja, provoca alterações graves no feto. É por isso desaconselhado o consumo durante a gravidez. As doses homeopáticas, se corresponderem a um copinho em dias especiais, ainda escapam, na minha perspectiva :)


11- Sushi e gravidez: proibido de todo, se o peixe for congelado anteriormente não é nocivo, de o peixe for fresquíssimo não é nocivo ou deixa-te de caprichos nipónicos?

Eu sou fanática de sushi, mas a minha opinião é a última: deixa-te de caprichos ipónicos. O sushi pode ter parasitas, mesmo que o peixe seja fresco. E se não for fresco, pode ter imensas bactérias que podem provocar todo o tipo de situações. E todos os vegetais que são preparados com o sushi podem ser veículos de toxoplasmose.
Mas parece que alguns restaurantes já vendem um sushi especial para grávidas, com tudo bem cozinhado - esta pode ser uma boa opção.


12- Qual a probabilidade de erro no que diz respeito ao sexo da criança visto através de imagens ecográficas?

É difícil dizer, porque depende de várias coisas:
- no primeiro trimestre, e até às 12 semanas, o sexo é muito semelhante no rapaz e na rapariga, só mudando um pequeno ângulo que podemos avaliar na ecografia (mas a margem de erro nesta altura é grande!)
- a partir das 16-17 semanas, se num plano adequado e sem artefactos/ imagens que confundam pela frente, consegue-se dizer com mais certezas.


13- Quais as desvantagens de uma cesariana para o bebé que vai nascer?
A cesariana deve ser realizada por indicações específicas, que podem ser de causa materna (por exemplo, se a mãe tiver uma doença cardíaca), devido à gravidez (uma pré-eclâmpsia grave e sem condições para um parto vaginal) ou pelo feto (por exemplo, sofrimento fetal, gémeos pélvicos). A ideia é melhorar o desfecho da gravidez, quer para a mãe, quer para o feto. Nos últimos anos, a taxa de cesarianas tem aumentado exageradamente, por vários motivos ainda a ser analisados, e tem-se verificado que os bebés que nascem por cesariana poderão ter mais frequentemente o síndrome de dificuldade respiratória, em particular se forem cesarianas electivas antes das 38 semanas. Em termos de pós-parto imediato, a mãe vai necessitar de mais ajuda, porque a cesariana é uma grande cirurgia e portanto poderá ter menor disponibilidade para o recém-nascido. Nas cesarianas a "subida do leite" pode ocorrer mais tarde, mas à partida, a amamentação pode decorrer normalmente.


14- Sexo na gravidez? Sim, com moderação, não de todo? Em que circunstâncias o sexo deve ser revisto e alterado dos padrões normais do casal?
Se não houver nenhuma contra-indicação médica (como no caso de hemorragia, placenta prévia, rotura de bolsa ou outras...) sim, claro. Há grávidas que referem um aumento do desejo sexual, outras dizem que ficou tudo na mesma, outras nem estão para aí viradas. Portanto tudo depende da disposição do casal. A gravidez pode ser uma óptima oportunidade para explorar, em particular posições mais confortáveis, devido ao crescimento uterino.
E é importante relembrar os maridos que acham que vão "magoar" o bebé, que o feto está dentro do saco amniótico, protegido dentro do útero, e o colo do útero está fechado. Portanto, o bebé está seguro! E em relação ao orgasmo feminino, é normal que cause contracções - mas estas devem ser indolores e transitórias.


15- O que é o spotting? É efectivamente uma ameça de aborto?

Qualquer perda de sangue na gravidez deve ser encarada como uma ameaça de aborto. Um spotting é uma perda de sangue muito ligeira. É necessário vigilância, por vezes ocorre na altura da implantação, mas pode significar que estamos perante uma gravidez que não vai ter o melhor desfecho.


16- Quais os principais cuidados que a mulher deve ter se viaja grávida (desde o mês 1 ao 9)?
No geral, uma grávida saudável pode viajar sem problemas.
Em termos de viagens de avião, a grávida saudável pode viajar até às 36 semanas de gestação. Não se deve esquecer das recomendações seguintes: movimentos periódicos das pernas, levantar-se e andar um pouco, pelo menos de hora a hora e utilizar cinto de segurança enquanto sentada.Os riscos maiores poderão ser apanhar uma infecção ou ter uma doença num local sem cuidados médicos disponíveis.
Relativamente a viagens de carro, deve ser sempre usado cinto de segurança de 3 pontos.Não está recomendado desactivar o airbag durante a gravidez.
Mas o ideal é sempre consultar o médico antes de uma viagem, porque cada grávida é um caso.


17- O que vem a ser aquele traço negro que aperece na barriga da maiora das grávidas? Desaparece depois?
É a "linha alba", a zona de separação entre os músculos abdominais, que com a distensão abdominal devido ao crescimento do feto, e à elevada concentração de hormonas, se vai tornando mais escura (passa a "linha nigra"), já que os melanócitos são estimulados. A tonalidade da linha depende da tonalidade da pela da grávida, ou seja, mulheres mais morenas ficam com a linha mais escura. Desaparece no puerpério.


18- As hemerróidas pós-parto são uma realidade comum? Como se tratam?
É frequente ocorrerem no pós-parto, já que se passaram 9 meses em que o ambiente hormonal e o peso são propícios ao aparecimento de varizes. Na altura do parto, para que o bebé nasça, os esforços expulsivos contribuem para o agravamento das hemorróidas. Geralmente é uma situação transitória, que resolve durante o puerpério e que melhora com medicamentos como a diosmina e com a aplicação local de pomadas específicas. Casos mais graves poderão ter tratamento cirurgico, mas é raro.


19- A ida à praia/piscina durante a gravidez é aconselhável? As águas podem contaminar e provocar infecções urinárias? Deve proteger-se a pele da barriga com fato de banho ou o bikini que promove a barriga à mostra não é prejudicial?
Penso que com bom senso, praia e piscina podem ser benéficos.
A piscina, mais concretamente a natação, é um bom desporto para a grávida e para o bem estar. As piscinas devem ter a vigilância habitual dos parâmetros da água.
As grávidas têm mais frequentemente infecções urinárias por vários motivos: pela baixa de imunidade fisiológica da gravidez, e pela progesterona em circulação, que vai predispor a ligeiro refluxo vesico-uretral - mais frequentemente surgem cistites e pielonefrites. Mas não me parece que a ida à piscina tenha grande contribuição neste caso - se for uma piscina com água de qualidade.
Relativamente à praia, a grávida é como a criança: deve evitar estar na praia nas horas de maior calor, e evitar a exposição solar. O protector solar deve ser adequado a grávidas (atenção que alguns têm quimicos nocivos para o feto). Relativamente a fato de banho ou bikini, penso que é uma escolha pessoal - o importante é não ficar com a barriga ao sol (para além de fazer mal à pele, que na gravidez fica mais facilmente com manchas escuras, um escaldão desidrata e provoca contracções e imaginem o que acontece ao líquido amniótico horas ao sol).



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