Pais e filhos pelo mundo #1: Roberta, João e Maria, Irlanda
, 30.10.13
A Roberta tem 31 anos, e é licenciada em Design de Comunicação. Trabalhava há 5 anos e meio como assistente administrativa no Hospital Nossa Senhora do Rosário, Barreiro. É mãe de uma menina linda, a Maria, de 16 meses, que adora dançar, comer e ver a Peppa Pig e é completamente viciada no pai. Saíram de Portugal em direcção à Irlanda, em busca de um futuro melhor, e é lá que vivem agora.
A economia em Portugal não estava, nem está na sua melhor forma e apesar de nós estarmos os dois a trabalhar e efectivos em Portugal já há alguns anos, não nos impediu de querer um melhor futuro para nós, melhores condições de trabalho e também mais oportunidades. O facto de ser mãe fez-me pensar mais, provavelmente se fossemos apenas os dois não teríamos iniciado esta aventura.Escolhemos a Irlanda simplesmente porque foi uma das propostas de trabalho que o João recebeu e que achamos ser vantajosa para nós.
2- Foi uma decisão fácil?
Sinceramente foi. O ar em Portugal estava saturado, as noticias deprimentes, o semblante das pessoas sempre triste, a vontade de ‘fugir’e respirar era muito grande e assim fizemos. O facto de a Maria ter apenas 5 meses quando este processo se iniciou contribuiu positivamente. Por isso posso dizer que foi fácil.
3 - Como foi a adaptação a outro país, em particular para a Maria e quais as principais diferenças em relação a Portugal?
A adaptação foi muito fácil, os irlandeses são pessoas bem dispostas e gentis, basta sentirem que estás perdida ou a precisar de ajuda para te abordarem e tentarem ajudar. A cidade é bonita, tem muito para conhecer e há sempre muita animação. Há uma grande diferença para nós, cá não temos carro e em Portugal estávamos habituados a ir de carro para todo lado.O mais difícil para mim foi estar sem trabalhar nos primeiros 6 meses e cuidar a tempo inteiro da Maria, mas assim que cheguei comecei a frequentar grupos de convívio para pais com bebés o que me ajudava a mim a socializar e também à Maria a conviver. Julgo que para a Maria não houve sequer adaptação, ela vive aqui há mais tempo do que viveu em Portugal, aqui é a casa dela.
4 - Como é trabalhar na Irlanda?
Muito bom. Não tenho razão de queixa do meu trabalho em Portugal, mas aqui há uma maior proteção para com o trabalhador. Para além dos ordenados serem melhores, há muita flexibilidade, no nosso caso ambos podemos trabalhar a partir de casa sempre que seja necessário, o que é muito bom quando não se tem família por perto para ficar com os filhos quando estão doentes.Há um maior espírito de equipa entre colegas e mesmo entre superiores hierárquicos, aqui toda a gente se senta à mesma mesa para almoçar, não há Srs Engenheiros, nem Doutores, todos nos tratamos pelo nome próprio.Ao contrário de Portugal aqui sinto que há um incentivo à progressão na carreira e isso também é muito importante.
5 - Como é educar uma filha na Irlanda?
O sistema escolar é diferente do nosso, as escolas só funcionam até as 14h e as etapas escolares julgo também serem diferentes, mas ainda não investiguei muito sobre o assunto. A Maria está na creche desde que eu comecei a trabalhar e só posso dizer maravilhas, mas tive de abrir um pouco a mente relativamente à alimentação, ao inicio foi chocante ter a minha filha a comer pão com alho ou feijões com douradinhos ao lanche, mas se os outros comem ela também come, em casa contra balanço com comida portuguesa. Os preços também são astronómicos, é normal pagar entre 800-1000 euros por uma creche por mês e não precisa de ser o supra sumo das creches! Preocupa-me o facto de ela começar a falar mais inglês que português e que nós como pais não consigamos impor o português escrito e lido cá em casa num futuro próximo, mas isso vai partir de um esforço da nossa parte que espero seja bem sucedido!
6 - Como é que se gere a distância da família - em particular para a Maria?
Skype practicamente todos dias, a Maria assim que ouve o som do skype a ligar começa logo a acenar e a dizer olá.Mas para ela é muito fácil, para nós tem dias melhores outros piores, o truque é viver um dia de cada vez e focar-me nas muitas coisas boas que vivo aqui, mas acredito que o natal vá custar um bocadinho este ano, vamos estar apenas os três.Aliás aqui apenas contamos connosco, onde vamos, vamos sempre os três, não há jantares a dois, nem escapadinhas de fim de semana como fazíamos com facilidade em Portugal, aqui somos sempre só nós.
7 - Como é um dia típico vosso?
Saímos de casa às 7h, o João vai levar a Maria à creche e eu sigo para o trabalho. Por volta das 17h30 e depois do trabalho o João vai buscar a Maria à creche e eu chego a casa às 18h30 se não houver grandes atrasos nos transportes. Depois tratamos dela banho, jantar, um pouco de brincadeira e por norma as 20h está a pedir para ir dormir, a partir dessa hora temos um bocadinho de tempo para nós, nem que seja adormecer a ver os primeiros 5 minutos de um filme ou série. Ao fim de semana fazemos as compras de supermercado, e aproveitamos para passear, descansar e também por a casa em ordem.
8- O que achas que era preciso mudar em Portugal para voltarem?
Mentalidades, vicios, formas de estar, o que gosto em Portugal é da minha família, amigos e uma outra iguaria que por cá não encontro, mas até isso se consegue resolver. Estava mais decidida a importar a minha família para cá e ai estaria plenamente feliz.
9 -O que dirias aos pais que estão a pensar sair de Portugal para poderem dar um futuro melhor aos filhos?
Informem-se sobre o pais para onde se pensam mudar, falem com pessoas que já lá vivam e tentem recolher o máximo de informação possível.Não é fácil, mas vale a pena! Até hoje ainda não houve um dia que me arrependesse desta decisão.