Crónicas de uma (ex) interna #14
, 27.11.13
Quando terminamos o curso de Medicina, depois de longos anos de estudo, fazemos o famoso juramento de Hipócrates. Aquele momento solene em que juramos colocar a saúde do nosso doente à frente de tudo o resto. Mas claramente este juramento é do tempo da Grécia antiga - porque um juramento moderno teria concerteza, algures, as palavras "contenção de custos", "poupar" e "crise".
O facto é que estamos numa fase em que no Serviço Nacional de Saúde há falta de tudo: de papel para imprimir receitas, de tinteiros, de luvas, de papel para as marquesas, de determinados medicamentos, de certos fios para cirurgia, de papel fotográfico para as ecografias.
E eu não sei bem como é que operamos pessoas sem luvas. Como é que prescrevemos medicamentos sem papel para imprimir receitas. Nem faço ideia o que fazer quando o gel para as ecografias acabar, bem como o papel fotográfico.
Imagino que estejam quase, quase a voltar os tempos do Dr. João Semana. Imagino que nos comecemos a aproximar de certos hospitais em África onde as grávidas têm de levar para o hospital o material para o parto. Imagino este novo mundo e sinto que estamos a dar muitos passos para trás. Que não era esta a Medicina que eu esperava ter quando estivesse a trabalhar em pleno na minha especialidade. Tenho pena, porque temos um dos melhores Serviços Nacionais de Saúde do Mundo. Confesso que não gostava que nos transformássemos num sistema tipo o Americano, em que é possível deixar alguém morrer de enfarte à porta do hospital por não ter seguro para suportar o internamento.
Acredito no nosso Serviço Nacional de Saúde. E gostava que o conseguíssemos defender. Porque nenhum juramento de Hipócrates põe a Troika à frente da saúde dos nossos doentes.
O facto é que estamos numa fase em que no Serviço Nacional de Saúde há falta de tudo: de papel para imprimir receitas, de tinteiros, de luvas, de papel para as marquesas, de determinados medicamentos, de certos fios para cirurgia, de papel fotográfico para as ecografias.
E eu não sei bem como é que operamos pessoas sem luvas. Como é que prescrevemos medicamentos sem papel para imprimir receitas. Nem faço ideia o que fazer quando o gel para as ecografias acabar, bem como o papel fotográfico.
Imagino que estejam quase, quase a voltar os tempos do Dr. João Semana. Imagino que nos comecemos a aproximar de certos hospitais em África onde as grávidas têm de levar para o hospital o material para o parto. Imagino este novo mundo e sinto que estamos a dar muitos passos para trás. Que não era esta a Medicina que eu esperava ter quando estivesse a trabalhar em pleno na minha especialidade. Tenho pena, porque temos um dos melhores Serviços Nacionais de Saúde do Mundo. Confesso que não gostava que nos transformássemos num sistema tipo o Americano, em que é possível deixar alguém morrer de enfarte à porta do hospital por não ter seguro para suportar o internamento.
Acredito no nosso Serviço Nacional de Saúde. E gostava que o conseguíssemos defender. Porque nenhum juramento de Hipócrates põe a Troika à frente da saúde dos nossos doentes.