Confissões de uma médica #6
, 31.08.15
Em crianças, quase todos passamos pela fase em que queremos ser médicos quando formos grandes: parece ser uma profissão importante, essa de curar pessoas.
E nessa altura, o que importa mesmo é que, se formos médicos, vamos ter um estetoscópio e uma luzinha para ver a garganta, e com sorte também um daqueles aparelhos para espreitar para o ouvido, que sabemos que tem um nome complicado mas não fazemos ideia qual.
Depois crescemos. E alguns tornam-se mesmo médicos.
E os que escolhem outras profissões, continuam a achar que ser médico é uma profissão importante. E quase toda a gente imagina que, ao entrar num consultório, o médico que vai estar à nossa frente vai ser, evidentemente, homem (e com isto quero dizer do sexo masculino), ter cabelo grisalho, porque tem de saber muita coisa e ter imensa experiência, e usar uma gravata e estetoscópio, porque foi assim que sempre imaginamos os médicos.
E tem de ter disponibilidade total, porque quem dedica a sua vida aos outros, não pode parar para almoçar, ir à casa de banho ou dormir. Nem sequer se imagina que em simultâneo com o tratar a nossa doença, o médico possa também ter uma família e problemas para resolver.
E às vezes é difícil perceber que, afinal, o médico que nos vai tratar é, afinal, uma médica. E que tem ar jovem, muito jovem. À primeira vista, parece, definitivamente uma enfermeira – será que nos enganamos na sala? Até se duvida se será mesmo especialista, porque é impossível alguém não ter rugas e cabelos brancos e saber muito sobre algum assunto médico. E ainda por cima, até nos trata bem, mas de certeza que não vai saber dar o tratamento correcto. Ou vai?
Afinal, os médicos são pessoas absolutamente normais – há homens e mulheres, novos e velhos, mais ou menos arranjados. Todos fizeram o mesmo juramento e dão o seu melhor. Mas estão longe do super-herói que imaginamos na infância, porque os médicos, apesar de trabalharem muitas horas seguida, também precisam de ir à casa de banho. E comem. E também ficam cansados.
E uma médica sem rugas nem cabelos brancos, com unhas pintadas de rosa e pulseiras de elásticos, pode ser tão ou mais competente que o nosso médico ideal, de gravata e cabelo grisalho.
Muitos acham que os médicos são imunes a qualquer doença e às vezes até se esquecem que são pessoas normais. Mas na realidade, ser médico significa estar constantemente exposto a stress, trabalhar muitas horas, ter um desgaste físico e psicológico intenso. E os médicos não são de ferro.