Não tenhas pressa
, 30.09.15
Não vale a pena querermos que as coisas passem a correr.
Quando somos pequenos, queremos ser adultos o mais depressa possível para tirarmos a carta, irmos ao cinema com os amigos sozinhos, fazermos as nossas escolhas. E quando nos apercebemos estamos numa rotina de um emprego, lutamos para pagar as contas e só queremos que os dias passem rápido para chegarem as férias.
Não vale a pena termos pressa.
Depois daqueles dois tracinhos que apareceram no teste de gravidez, não vale a pena suspiramos pelo fim dos nove meses, porque em menos de nada, temos o nosso filho nos braços e já temos saudades de o sentir aos pontapés na nossa barriga.
Não vale a pena desejar que cresçam rápido.
Num dia estamos a mudar fraldas, com olheiras das noites mal dormidas por dar de mamar de três em três horas, e no outro estamos de coração apertado por ter de deixar o nosso filho, pela primeira vez, na escola. Eles vão deixar a chucha e as fraldas, vão deixar de fazer xixi na cama. Num instante.
Não vale a pena termos pressa.
As birras infindáveis passam e eles deixam de querer colo e mimos no que parecem ser segundos. Deixam de querer dormir na cama dos pais, deixam de chamar pela mãe a meio da noite por causa de um pesadelo, deixam de querer o pai para brincar aos carrinhos.
Não vale a pena querer que a vida passe num ápice.
É o "agora" que vale a pena aproveitar.
O sol, a chuva, um abraço, beijos lambuzados. Birras, lágrimas, gargalhadas e sorrisos. Joelhos esfolados de brincar na rua, roupas sujas e casas desarrumadas. Palavras mal pronunciadas, músicas que tocam repetidamente. Princesas e super-heróis. Pequenos invasores nocturnos que se aninham na cama dos pais a meio da noite e que se recusam a sair. Colo. Mimo.
Eles crescem num instante. E a vida não se repete. Por isso, não vale a pena ter pressa. Mas vale a pena aproveitar todos os segundos.