Quando disse à tua avó que estava grávida, ela fez as contas sem precisar da minha rodinha de obstetra e disse que ias nascer no dia de anos dela. Eu respondi que era muito pouco provável, porque o dia 18 de setembro já calhava nas 41 semanas.
A verdade é que não estavas com pressa de nascer. Devias estar quentinha e confortável - e eu confesso que te adorava sentir mexer na minha barriga, e ter-te ali, protegida do mundo e só minha.
Mas a evidência científica da medicina diz-nos que a partir de um certo ponto começamos a arriscar quando esperamos para além das 41 semanas, por isso, decidimos induzir o parto.
No dia 17 ainda vesti a farda da maternidade, como se estivesse de urgência naquele dia, com a diferença que o teu pai estava comigo. Foi preciso colocar 1 comprimido, subir e descer escadas pelo hospital, ir almoçar à cantina com os outros colegas, subir e descer mais escadas, fazer CTGs. Colocar outro comprimido. Andar, andar. Quando finalmente começaram as contrações e a bolsa rompeu já estavamos no final do dia. E apesar de achar que ia ser muito forte e conseguiria controlar perfeitamente a dor, estava redondamente enganada e a foi a epidural que tornou as horas seguintes numa espera tranquila.
Isto para te dizer, minha querida, que a dilatação lá foi avançando devagarinho, e que só decidiste que estava na altura de nascer já passava da meia-noite.
No dia 18 de setembro, tal como a tua avó previra. Exatamente no dia de anos dela.
Confesso-te que esperava que o parto fosse mais fácil. Mesmo com a epidural, tinha uma dor forte, porque a tua cabeça não estava bem rodada. Foi preciso dar-te uma ajuda com a ventosa. Com o nervoso, a dor e as emoções à flor da pele, eu só conseguia rir. Eu sei, é parvo, mas em stress muitas vezes dá-me para isso.
Enfim, lá te demos uma ajuda a nascer. Ficaste em cima da minha barriga, de olhos muito abertos, como que a perceber o que estava a acontecer.