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Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

As ecografias que fazem sorrir

Avatar do autor , 06.11.15

 

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Quando se começou a falar mais de ecografia 3D e 4D, até nem era das mais entusiastas. Achava que se na ecografia convencional se conseguia ver (quase) tudo tão bem, para quê tanto alarido? Mas estou absolutamente rendida à ecografia 3/4D, depois de uma boa ecografia 2D, porque nesse momento, ao verem ali, no ecrã o seu bebé, os pais apercebem-se subitamente que ele é real.
Está mesmo ali. Não é so um pequeno ser que dá pontapés e faz com que a mãe vomite várias vezes por dia e passe o tempo na casa de banho.
É UM BEBÉ.
Faz beicinho. Esfrega os olhos. Brinca com o cordão umbilical. Tem sono e boceja. Engole liquido amniótico. Chucha no dedo. Sorri.
É nestes momentos que a mãe vê ali o nariz do pai, ou que o pai já imagina que vai ter o feitio da mãe. Que se vê que tem umas bochechas fofinhas como o irmão.
E eu sou, de facto, uma sortuda, por poder proporcionar estas imagens e partilhar estes momentos de felicidade com os pais.

 

 

Carta ao SNS

Avatar do autor , 01.11.15

Querido Serviço Nacional de Saúde,

 

Gostava de começar esta carta por um "espero que te encontres bem". Porém, parece-me que não seria muito apropriado.

Isto porque sei que já foste um SNS de excelência, mas agora, de facto, não te encontras bem.

Não sei bem em que altura começou, mas a verdade é que as coisas foram mudando, lentamente. Era um orgulho para todos vestirmos a tua camisola e fazermos parte deste projecto de levar a saúde a todos, mas as coisas mudaram.

Talvez tenha sido a crise. Talvez tenha sido a má gestão. Talvez o aparecimento de hospitais privados, os seguros. Não sei.

O que é facto é que nos últimos anos, algo muito dramático tem acontecido. O tempo que se espera para uma consulta aumentou assustadoramente. As listas para cirurgias são infindáveis. As faltas de material acontecem todos os dias em todo o lado. As taxas moderadoras vão aumentando. Não há verbas para investigação, a formação dos mais novos é deixada para trás. Há poucos enfermeiros, há poucos médicos. Faltam anestesistas, faltam cirurgiões, faltam obstetras, faltam ortopedistas e tantos outros, em particular nas zonas mais periféricas do país. Há muito trabalho e pouca gente, e por isso a exaustão é permanente. E profissionais de saúde exaustos não podem desempenhar as suas funções na perfeição, como se espera deles.

Mas as administrações insistem. Insistem que é preciso fazer vários turnos de 24 horas por semana. Insistem que é preciso continuar a trabalhar no dia seguinte, após uma urgência nocturna (ou de 24h). Insistem que mesmo quando não há locais para descanso, condições para os profissionais de saúde tomarem banho, material para trabalhar como luvas ou papel, é preciso continuar. Mais de 24 horas, muitas vezes, repetidamente.

E na verdade, querido SNS, o que tem acontecido vai-se agravando cada vez mais. Porque poucos conseguem trabalhar nestas condições. Os que podem acabam por rumar para outros países, com melhores condições de trabalho, melhores condições de vida. Com tempo para os doentes, tempo para a família, horas para descansar, como devia ser obrigatório por aqui. E nesses outros países sabem que os profissionais de saúde formados no nosso país são excelentes, e recebem-nos de braços abertos. Outros optam por unidades privadas, porque não conseguem mais trabalhar nas condições dos hospitais públicos.

Os que ficam, e que ainda sustêm este SNS dão tudo o que têm, mas precisam de mais. Não vão aguentar muito mais tempo. Precisam de respeito, de condições de trabalho. Precisam de uma remuneração adequada. Precisam de descansar para poderem trabalhar. Precisam de novos líderes, de novas políticas de saúde. 

Por isso, querido SNS, desejo que melhores. Que não deixes de ser um dos melhores do mundo. Mas neste momento, o prognóstico é reservado. E parece-me que os tratamentos para a tua condição são ainda todos experimentais.

 

Uma médica

 

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Momentos em que uma médica não sabe o que dizer

Avatar do autor , 08.10.15

Dos momentos que não sei o que dizer (nem como o dizer):


quando estou a fazer ecografias, entra uma grávida para a do primeiro trimestre e confessa-me que já não tem idade para estas coisas (tem 43 anos), que isto foi tudo um descuido e que já tem 3 meninas lindas em casa.

Não sabe bem como vai ser esta gravidez porque se sente cansada e a barriga parece tão grande (acha que já está a comer por dois!).


Assim que pouso a sonda na barriga dela e vejo dois sacos com dois fetos aos pulinhos e com dois corações vigorosos, interrogo-me como é que posso dar a notícia de que, afinal, vai ter gémeos (2 filhos a juntar aos 3 lá de casa) sem provocar um ataque cardíaco à senhora.


Depois do choque e de Nosso Senhor Jesus Cristo ser invocado várias vezes, na gestão da crise, lá acaba por dizer:
"Bem, afinal posso comer por 3!"

 

(há que ver sempre o lado bom das coisas)

 

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Confissões de uma médica #8

Avatar do autor , 24.09.15

"Quando é que vens para casa, mãe?"

 

É quase impossível explicar o que uma mãe sente quando os filhos lhe fazem esta pergunta pelo telefone, ao fim de um dia de escola. Quando eles já chegaram a casa com o pai, depois de quase 12 horas fora. Quando querem ver a mãe, contar à mãe o que aconteceu durante o dia, o que comeram, o que aprenderam, ao que brincaram. Quando não podem, porque a mãe está a trabalhar (outra vez) e vai passar mais uma noite no hospital. Mais 24 horas seguidas, às quais se soma outro dia, o que faz que esta mãe só possa ver, realmente, os filhos na tarde do dia seguinte. E em pouco tempo, porque há TPCs, banhos e jantar para organizar e é preciso estar no hospital bem cedinho no dia seguinte.

Mesmo que a mãe explique que está a ajudar outras pessoas, que está  ajudar bebés a nascer, é difícil. Tão difícil. Porque as crianças são crianças, e as mães são mães. E mães e filhos devem estar juntos, o máximo de tempo possível. É assim que deve ser. As mães mimam, ensinam, ajudam a crescer. É preciso tempo, para se ser mãe. E eles precisam de tempo, para serem filhos.

24 horas de urgência, mais dezenas de horas de trabalho todos os dias, todas as semanas, todos os anos. Tempo demais para o trabalho.E se as contas permitem, então é tempo de mudar. 

Uma vez ouvi dizer que só são precisos 20 segundos de coragem para mudar. 20 segundos, suficientes para preencher um papel. 20 segundos, suficientes para pôr em primeiro lugar o que deve estar em primeiro lugar. 20 segundos para decidir  trabalhar menos, para não precisar deixar os filhos em prolongamentos na escola, para brincar com eles, para ajudar com calma nos TPCs e ainda ensinar os dias e os anos com as laranjas da fruteira e muita imaginação. 20 segundos para escolher que está na altura de os deixar brincar na rua, para os levar ao parque todos os dias. 20 segundos para voltar a dormir todos os dias em casa e poder abraçar e espantar pesadelos.

20 segundos são mais que suficientes para pormos em prática o que o nosso coração já pedia há muito.

20 segundos são suficientes para escolhermos ser felizes.

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Confissões de uma médica #7

Avatar do autor , 09.09.15

As urgências de um hospital são, por definição, locais de adrenalina. Onde a resposta tem de ser rápida, imediata, eficaz. O médico, o enfermeiro, o assistente operacional, toda a equipa tem de estar coordenada e a trabalhar para o mesmo fim.

Eu gosto de fazer urgência. Acho que consigo ser um bom elemento em situações de stress. Mas muitas das vezes ponho-me a pensar qual é o segredo para conseguirmos que as coisas corram bem? Ou o que é que não funcionou se tudo corre mal? De quem é a culpa? Como é que conseguimos salvar uma grávida e o seu bebé quando temos um descolamento de placenta grave que põe em risco os dois, por exemplo? As respostas não são simples, mas existem.

Funcionamos como uma cadeia em que o primeiro elemento tem de reconhecer a situação e depois toda a equipa tem de se coordenar para dar resposta ao problema. Não se pode perder tempo e temos de conhecer o local de trabalho, o material de que dispomos. Saber de cor e salteado todos os passos do que estamos a fazer. E temos de ter um bom líder.

Os líderes são fundamentais – e nada de se pensar que o líder é o chefe, porque até pode nem ser. O chefe é chefe porque sim. Mas todos sabemos reconhecer um líder: consegue motivar, organizar, conduzir. As equipas funcionam bem muito à conta do líder.

 

 

 

 

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Confissões de uma médica #6

Avatar do autor , 31.08.15

Em crianças, quase todos passamos pela fase em que queremos ser médicos quando formos grandes: parece ser uma profissão importante, essa de curar pessoas.

E nessa altura, o que importa mesmo é que, se formos médicos, vamos ter um estetoscópio e uma luzinha para ver a garganta, e com sorte também um daqueles aparelhos para espreitar para o ouvido, que sabemos que tem um nome complicado mas não fazemos ideia qual.

Depois crescemos. E alguns tornam-se mesmo médicos.

E os que escolhem outras profissões, continuam a achar que ser médico é uma profissão importante. E quase toda a gente imagina que, ao entrar num consultório, o médico que vai estar à nossa frente vai ser, evidentemente, homem (e com isto quero dizer do sexo masculino), ter cabelo grisalho, porque tem de saber muita coisa e ter imensa experiência, e usar uma gravata e estetoscópio, porque foi assim que sempre imaginamos os médicos.

E tem de ter disponibilidade total, porque quem dedica a sua vida aos outros, não pode parar para almoçar, ir à casa de banho ou dormir. Nem sequer se imagina que em simultâneo com o tratar a nossa doença, o médico possa também ter uma família e problemas para resolver.

E às vezes é difícil perceber que, afinal, o médico que nos vai tratar é, afinal, uma médica. E que tem ar jovem, muito jovem. À primeira vista, parece, definitivamente uma enfermeira – será que nos enganamos na sala? Até se duvida se será mesmo especialista, porque é impossível alguém não ter rugas e cabelos brancos e saber muito sobre algum assunto médico.  E ainda por cima, até nos trata bem, mas de certeza que não vai saber dar o tratamento correcto. Ou vai?

Afinal, os médicos são pessoas absolutamente normais – há homens e mulheres, novos e velhos, mais ou menos arranjados. Todos fizeram o mesmo juramento e dão o seu melhor. Mas estão longe do super-herói que imaginamos na infância, porque os médicos, apesar de trabalharem muitas horas seguida, também precisam de ir à casa de banho. E comem. E também ficam cansados.

E uma médica sem rugas nem cabelos brancos, com unhas pintadas de rosa e pulseiras de elásticos, pode ser tão ou mais competente que o nosso médico ideal, de gravata e cabelo grisalho.

Muitos acham que os médicos são imunes a qualquer doença e às vezes até se esquecem que são pessoas normais. Mas na realidade, ser médico significa estar constantemente exposto a stress, trabalhar muitas horas, ter um desgaste físico e psicológico intenso. E os médicos não são de ferro.

 

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Confissões de uma médica #5

Avatar do autor , 17.08.15

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Sempre gostei daquele conceito do médico tradicional: aquele que ia de casa em casa, que tratava as pessoas (com cuidados médicos ou só com uma boa conversa) , que era mais do que um cuidador mas também um amigo, e cujos serviços eram pagos com um presunto, couves portuguesas, ovos ou galinhas.

Gosto do conceito (provavelmente romântico e idealista) de um mundo sem dinheiro. Um mundo que não dependesse do preço dos barris de petróleo ou das taxas de juro do banco europeu. Onde não houvesse resgates e cortes salariais.

No meu mundo ideal, não haveria moedas, ou notas, ou cartões de crédito.

 

 

 

 

Confissões de uma médica #4

Avatar do autor , 30.07.15

Decidir ter filhos não é uma decisão fácil.

 

Nunca é o momento ideal. Muito menos quando estamos a falar de quando se é interna de uma especialidade exigente como Ginecologia e Obstetrícia. Ouvia de forma recorrente “nem penses em engravidar! Depois como é que tens tempo para o internato?”. Não está contemplado no programa da especialidade tempo para engravidar. Está previsto licença para um doutoramento, ou a possibilidade de acumular funções académicas, mas maternidade nem pensar.

Parece impensável para muitos dos médicos mais velhos que os filhos se possam intrometer na nossa formação. E isto faz com que eu e as outras internas pensemos nisto, e frequentemente adiemos a decisão de dar esse passo tão importante. Passamos frequentemente muito mais do que 40 horas por semana no hospital, dormimos muitas noites fora de casa, temos (quase) todo o tempo livre subitamente ocupado com trabalhos e estudo. Ocupado com os nossos doente, porque queremos

 

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Confissões de uma médica #3

Avatar do autor , 08.07.15

AObstetrícia é uma especialidade fantástica: é maravilhoso perceber que háuma espécie de magia que transforma duas células num ser vivo, e poderacompanhar esse processo até ao momento do nascimento. Adoro Obstetrícia egosto do cheiro a bebés que reina na enfermaria, no facto de termos maioritariamentemães e bebés saudáveis, e de ser uma especialidade cheia de coisas boase finais felizes.

Masé também uma especialidade onde tudo muda num segundo. 

Onde um desfechoperfeito se pode tornar numa tragédia em poucos instantes. E quando as coisascorrem mal, é um verdadeiro drama, porque podemos ter duas vidas em risco - eninguém está preparado para perder mães ou bebés, ou ambos.
Oque a maioria das mulheres não sabe é que engravidar significa correr riscos -porque há mil e uma complicações possíveis e desfechos adversos. Felizmente, opróprio estado de grávida torna as mulheres mais despreocupadas e relaxadas,pelas próprias hormonas da gravidez, e por isso acreditamos que as coisascorrem bem.
Omeu lema diário de trabalho é exactamente esse - que tudo vai correr bem. E quenunca podemos facilitar, porque em Obstetrícia há muito em risco.

Mashá situações imprevisíveis. Coisas que nos fogem ao controlo. 
E a morte é algo quefica entranhado em nós.

Osmédicos não são de ferro. Muitas vezes parecem, mas não são. Quando o pior acontece, é muito, muito difícil. Sentimos-nos impotentes.
Umadas coisas boas de sermos médicos é termos uma sensação de controlo sobre assituações. Pelo menos, é o que nos parece. Gostamos de ter respostas para osproblemas, medicamentos para curar doenças, cirurgias que resolvem casoscomplicados. Não é fácil quando as coisas fogem do nosso controlo.
Duranteo internato de Ginecologia e Obstetrícia, e nas outras especialidades, somostreinados para ter tudo sob controlo, para resolver da maneira certa, seguindoprotocolos, agindo de forma estereotipada. Está perfeitamente determinado ecomprovado por uma série de estudos científicos o que se deve fazer peranteaqueles sintomas, qual a atitude terapêutica adequada, qual o prognóstico. Mas istonem sempre resulta em medicina. Cada um de nós é um ser individual, complexo,com características próprias. Apesar da medicação X ser a ideal para umdeterminado tratamento, uma determinada pessoa pode ter uma reacção totalmenteoposta, pelas suas características individuais. E é complicado quando corretudo fora do que estamos à espera.
Mas é preciso continuar, e dar sempre o nosso melhor.






Era uma cesariana, se faz favor!

Avatar do autor , 04.06.15

Em poucos anos, passámos de uma era em que toda a gente nascia em casa de parto "normal" para um parto no hospital, num ambiente estranho, rodeado de soros, máquinas que apitam, e culminando muitas vezes numa grande cirurgia - a cesariana. 

A verdade é que nos anos 40, na altura em que toda a gente nascia em casa, também havia muitos bebés e mães a morrer. Muito mais que agora. O "não fazer a dilatação" era um dos casos de parto prolongado, que podia acabar menos bem, entre outras  causas. A taxa de mortalidade e morbilidade desceu à medida que os partos passaram a ser hospitalares e com acompanhamento médico. Mas o reverso da moeda foi um crescendo ao longo dos anos da taxa de cesarianas - que também têm as suas complicações.
 
A cesariana é um parto cirúrgico, ou seja, é preciso anestesia, bloco operatório e uma equipa completa de médicos e enfermeiros para fazer um parto destes. É preciso fazer um corte na pele, na gordura, no músculo, afastar a bexiga e abrir o útero. Romper a bolsa e puxar a cabeça do bebé para o mundo exterior, ou os pés. Depois é preciso tirar a placenta e fechar tudo por camadas, tendo sempre em atenção que ali à volta há vasos sanguíneos, o intestino, a bexiga. É preciso ter experiência cirúrgica e destreza. E mesmo correndo tudo bem, por ser uma cirurgia, a recuperação da mãe é mais lenta que num parto normal sem complicações. Pode haver infecções, complicações com a anestesia, entre outras coisas.
 
Mas se dizem que as cesarianas são perigosas e é preciso reduzir o seu número, afinal porque é que as fazemos? 
 
Há muitas razões: 
- podemos suspeitar que o bebé não está bem, e que não vai aguentar um parto normal, por isso é preciso que nasça o mais rápido possível, e a cesariana permite isso
- o bebé pode estar sentado e acharmos que é difícil que nasça por via vaginal sem complicações
- a mãe pode ter uma doença que a impeça de fazer esforços expulsivos e ter um parto vaginal
- o bebé pode ter algum problema que torne a cesariana a melhor opção
- pode ser um bebé grande demais para a bacia da mãe e "não passar"
- podem ser gémeos, ou trigémeos, e não ser possível um parto vaginal
 
Há muitas mais razões que levam a cesarianas. 
Muitas das vezes as equipas preferem não arriscar e avançar para uma cesariana. Outras vezes , talvez se pudesse esperar mais tempo e tentar um parto vaginal. Muitas vezes, induzem-se os partos antes do tempo por diversos motivos e mais facilmente se acaba num parto cirúrgico.
A verdade é que as cesariana podem ter complicações, mas também podem salvar vidas. 
É preciso encontrar o equilíbrio e fazer as cesarianas necessárias, aquelas que efectivamente vão ter mais benefícios que riscos.
 
Depois há ainda outra perspectiva: porque é que a mulher não poderá escolher o tipo de parto que quer? E se for devidamente informada, porque é que não pode escolher uma cesariana, tendo consciência dos riscos? 
Nos hospitais públicos, esta opção não é possível - devia ser, mas não é. Fazem-se as cesarianas estritamente necessárias, mas a opção da mulher não é contemplada.
E parece-me que uma das razões para os hospitais privados terem taxas de cesariana de cerca de 66% em comparação com os 35% dos hospitais públicos pode ser essa, a par do facto de as cesarianas serem melhor pagas pelos seguros que os partos normais - e os médicos, como todos no país, estão pressionados para produzir e ter lucro.
 
No mundo ideal, as mulheres deviam ser bem informadas, ter uma gravidez bem vigiada e poder escolher o tipo de parto, que poderia ser um parto mais ou menos naturalista, mais ou menos medicalizado, de acordo com o escolhesse. Podia ser um parto na água ou uma cesariana, ter epidural ou hipnose como analgesia. Devíamos poder ter todas as opções, e devidamente esclarecidas, escolher o nosso parto de sonho.
Porque no fundo, tudo se resume a um final feliz, com mãe e bebé saudáveis, e é isso que todos queremos e é por isso que lutamos diariamente, não por números ou taxas.
 
                          
 
      

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