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Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

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O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Crónicas de uma interna #6

Avatar do autor , 22.08.13

Sou uma "morning person". Que é como quem diz "uma pessoa da manhã", mas soa muito melhor em inglês - como se fosse uma definição.
Isto para dizer que apesar de adorar dormir uma boa sesta (evento impossível a esmagadora maioria dos dias durante o ano, pelas mais variadas razões), se falarmos de trabalho ou estudo, prefiro levantar-me bem cedo, beber um bom café (ou dois) e por mãos à obra. 
Às 6:00 da manhã, a casa ainda está sossegada, o sol começa a nascer e reina uma traquilidade ímpar. Sim, é difícil acordar e tenho sempre vontade de ficar mais uns minutos na cama. Mas é neste período de tempo até os miúdos acordarem que consigo pôr em dia uma série de coisas, desde pôr a casa em ordem, escrever no blog ou estudar. E quando começa a agitação em casa fico com a sensação que já consegui adiantar coisas importantes.
Quando chega a noite...bem, aí é mais complicado. A minha melatonina deve ser muito sensível à falta de luz e fico com um sono que nem com 3 cafés de seguida vai lá. Isto para dizer que o estudo sempre me rendeu muito mais de manhã e que não sou rapariga de grandes noitadas.
Claro que todos sabem que os médicos (e em particular os internos) têm de trabalhar à noite. Aliás, a grande maioria das nossas urgências são nocturnas, porque temos uma fatia grande do pessoal médico com mais de 50 anos e dispensados desta vida de dormir fora de casa, e depois os médicos mais novos e os internos, que passam muitas noites em claro no hospital. E este é um dos pontos que mais me custa nesta coisa de ser médico. Adoro a especialidade e o meu trabalho mas custa-me passar noites fora de casa. As 24 horas de urgência contínuas são frequentes e quando chega à noite apetece descansar. Mas claro, como costumo dizer à M. quando ela pergunta porque é que eu vou sair à noite, os bebés não escolhem horas para nascer.
E à noite num hospital tudo pode acontecer (sim, de dia também, mas a noite parece predispor a situações particulares). E é preciso estar bem acordado. Felizmente que a adrenalina tem essa capacidade fantástica que os cafés em tempo de estudo não têm.
Desde emergências obstétricas em que temos minutos para salvar 2 vidas, uma série de grávidas que entraram simultaneamente em trabalho de parto às 4h da manhã numa noite de lua cheia, ou o doente da psiquiatria que na sua tentativa de fuga se esconde no quarto onde o interno descansa num momento calmo da urgência. E depois disto tudo, ainda autorizamos a entrada do marido da grávida que está em trabalho de parto na sala 3, e apercebemo-nos que afinal ela até já tem um acompanhante. E é vê-lo em fuga após a notícia que "o marido" está a chegar. 
A vida à noite não é fácil.
É por isso que eu digo que sou uma pessoa da manhã.


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