Crónicas de uma interna #7
, 27.08.13
3+12+6+1+6+1= 1
O que é que isto significa?
3.
Que vida de interna começa cedo, no jardim de infância. Na altura em que se brinca a tudo e a nada. Se aprende a amizade. Criam-se laços para a vida. Crescemos. Temos varicela e outras pintas. Aprendemos a picotar. Pintamos com as mãos. Temos o primeiro namorado. 3 anos passam.
12.
Que entramos para a escola primária e de repente, entre turbilhões hormonais, testes, visitas de estudo, primeiros beijos, festas de comemoração da 100ª lição com tortas de chocolate DanCake, primeiras idas à discoteca, cafés, serenatas, noites passadas nos telhados de garagens a ver estrelas, escapadas nocturnas, estudo, mais testes, amizades para a vida, tardes a ver em modo repeat o Dirty Dancing e o Pretty Woman, passam-se 12 anos. 12. A voar. E de repente, temos exames nacionais e temos de saber o que queremos.
6.
Que entramos para a faculdade depois de um Portugal pós-Expo 98, a ouvir Silence 4, viagens margem sul-margem norte de madrugada, com os amigos do costume. Praxes, tunas, associativismo. Novas amizades. Comissões de Curso e aulas de anatomia. Apontamentos, revisões, muito estudo. Olimpíadas da medicina, posters de bioquímica, jogos de futebol. Sentirmo-nos como adultos e querermos continuar adolescentes. Pôr o estetoscópio ao pescoço e vestir a bata branca. Ter responsabilidade. Chegar ao fim de 6 anos e ser médico.
1.
Que em 12 meses (ou mais alguns) passamos por várias especialidades, tentamos ser bons médicos enquanto estudamos para o exame para entrarmos na especialidade. Sentamo-nos em frente a um molho de folhas, com um molho de perguntas e decidimos o nosso futuro. Escolhemos a vida com um número. Arriscamos. Seguimos o coração.
6.
Que em 6 anos aprende-se ginecologia, aprende-se obstetrícia, aprende-se a operar, a fazer ecografias, a ouvir, a falar, a escrever. Aprende-se a descobrir. Aprende-se a esperar. A contemplar. A apreciar a beleza da vida. A ter medo do incerto. A sentir a adrenalina. A dormir fora de casa. A viver longe da família e dos amigos. A construir uma nova vida, novos amigos que se calhar já conhecemos (no coração).
1.
Que 1 ano é o tempo que temos de compensar. Compensar 12 meses de especialidade por 2 tesouros lindos na vida. Duas licenças de maternidade. Porque as internas deviam ser só internas mas há umas que decidem ser mães. Que mudam. Que crescem. Que passam a viver a especialidade de uma maneira diferente - a maneira de quem tem o bebé na barriga. 1 ano de amor. Dois filhos lindos.
E na minha matemática impossível, a soma destas parcelas tem de ser igual a 1. No final, a conta tem de dar 1 (UMA) Especialista em Ginecologia e Obstetrícia. Feliz.
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