Quando é preciso esconder a gravidez
, 14.01.16
Costumo dizer às futuras mães que todas as gravidezes são diferentes. Até a mesma mulher, cada vez que espera um novo bebé, vai viver esta fase de forma diferente. É impossível comparar barrigas, sintomas, alterações de humor. A ciência não prevê o que vai acontecer em cada gravidez - pode dar uma probabilidade, mas nunca há certezas de nada.
Há grávidas tranquilas, grávidas que passam 9 meses a vomitar. Grávidas que brilham, exibindo orgulhosamente a sua barriga, grávidas que se sentem pessimamente naquele novo corpo e só querem que passe depressa.
E depois há as gravidezes escondidas.
Aquelas que acontecem sem querer, quando se tem 16 anos.
Quando se vive intensamente o momento, quando as emoções comandam. Quando não se tem coragem para contar aos pais, porque se sente que o mundo perfeito que tinham vai ruir, que se vão desiludir com a menina deles. E por isso, esconde-se o máximo de tempo possível.
Disfarçam-se os enjoos, reprime-se a vontade de comer descontroladamente ou aqueles apetites estranhos, de grávida. Adapta-se a roupa para ninguém notar. Não se fala sobre isso a ninguém, nem à melhor amiga. Não se vai ao médico, para ninguém desconfiar. Nas aulas de educação física finge-se uma dor de barriga, estar com o período, ter febre. E assim vão passando as semanas.
Mas há um momento em que a gravidez escondida se torna real, quando a barriga se torna impossível de esconder. E afinal, por entre lágrimas e alguma revolta, os pais aceitam, e ela fica tranquila. E feliz, porque queria muito aquele bebé, apesar de só ter 16 anos. E no final, tudo corre bem, como nos contos de fadas.
E hoje, aqui no consultório, está grávida do segundo filho e lembra-se perfeitamente da primeira gravidez. Lembra-se que foi tão diferente. Agora pode ver com tempo, na ecografia, os pés do seu filho, as mãos, a expressão - e a filha também pode espreitar naquele monitor o seu irmão, a filha que passou quase 40 semanas escondida.
Nesta gravidez, quer ver tudo, saber tudo, contar ao mundo que adora estar grávida, que ama muito os seus filhos.
E sim, cada gravidez é única e especial. Inesquecível, corra como correr.