Problemas que uma obstetra tem
, 26.06.18
Quem segue este blogue há mais tempo e em particular as minhas “Confissoes de uma Médica”, que originaram um livro com o mesmo nome, sabe que neste mundo da obstetricia há sempre histórias mais ou menos engraçadas e mais ou menos embaraçosas.
E porque este mundo das grávidas tem muitos pormenores importantes - por exemplo: "Quando foi feito o bebé?"- está associado a toda uma panóplia de confusões que podem envolver uma ou mais mães e um ou mais pais.
Apesar de não ser a primeira vez que me vejo envolvida em confusões deste tipo, já fico com taquicardia quando a minha assistente entra com ar de caso e avisa:
Dra esta grávida não quer que, em momento algum durante a consulta, diga de quanto tempo é a gravidez nem quando é a data provável de parto.
Como? pergunto eu, na esperança de não ter ouvido bem.
Portanto tenho de vigiar uma gravidez, onde surgem frequentemente alterações no crescimento do bebé, mas não posso dizer nada relacionado com o crescimento do bebé porque isso faz com que se saiba a data do parto e consequentemente... a data em que foi feito? Bonito.
Sim, é isso mesmo. Foi o que a senhora me pediu em privado. É que ela vem com o marido.
Certo.
Entre marido e mulher nao se mete a colher?
Bom, lá pus o meu melhor sorriso, avaliei exames que traziam e fiz uma ecografia pormenorizada, sempre a rezar interiormente “Que esteja tudo bem para eu não ter de mencionar quanto tempo tem a gravidez nem a data de parto!”
A reza lá funcionou e todos saíram felizes do consultório. Quem sou eu para originar o caos na vida do casal ou daquela criança ainda por nascer?
Bom, sempre foi melhor que o último caso que tive, em que a grávida vinha a consultas com pais diferentes - em semanas alternadas para nunca se cruzarem, claro.