Surpresas desta vida de médica
Tenho sorte em fazer o que faço.
Em amar a sério esta coisa de ser obstetra, apesar de passar noites acordadas, de ter situações de adrenalina extrema e de andar muitas vezes com o coração nas mãos - ou corações, porque quando tratamos de grávidas temos sempre mais do que uma pessoa à nossa responsabilidade.
E a intuição é uma das nossas aliadas.
Aquela sensação que temos que nos faz pedir umas análises mesmo sem haver grandes sintomas, porque algo nos murmura que se está a passar alguma coisa.
E às vezes é preciso trazer ao mundo um bocadinho mais cedo que o esperado os bebés que estão confortáveis na barriga da mãe, para todos ficarem bem.
E há momentos mágicos.
Depois de abrir a bolsa amniótica da primeira gémea, ficámos todos emocionados no bloco operatório com a mãozinha rosa e pequena que se estendeu da barriga da mãe.
Tivemos todos aquele instinto de querer registar para sempre aquele instante único, e em simultâneo querer tirá-la o mais depressa possível, porque era o certo a fazer.
E por isso ajudámo-la a nascer. Foi a primeira, e no minuto seguinte, nasceu a irmã.
Mas esta mãozinha, com genica e garra, está no meu coração - e espero que possa ser uma das mãos que nos vai ajudar a construir um mundo melhor.