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Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Faz o que te faz feliz

Avatar do autor , 06.07.19

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A minha relação entre ser médica e blogger/escritora é mais ou menos o que está expresso nesta frase.

O meu amor é a obstetrícia e não a troco por nada no mundo, mas de vez em quando gosto de encarar novos desafios, conhecer novas pessoas, dar voz à minha alma - e aí salto para o blog e para o computador para escrever desenfreadamente, partilhar ideias, descobrir o mundo.

 

Mas volto sempre.

 

Volto ao corredor dos hospitais, às corrida pelas escadas com o coração a acelerar, às decisões rápidas. Volto ao cuidar e sentir que em cada grávida e em cada bebé vai um bocadinho meu.

À responsabilidade.

Às noites de urgência, aos dias em casa a rever artigos e livros e estudos.

O meu amor é o chorar de um bebé saudável, nos braços dos pais, aquele primeiro grito neste mundo em mudança.


Por isso o blog tem andado mais parado porque estou muito dedicada a este amor de sempre. Mas não está esquecido.

Confissões de uma médica: os verdadeiros heróis

Avatar do autor , 16.05.19

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Sou uma médica chata. Daquelas que repete muitas vezes a mesma coisa. Em particular, quando chegamos ao 3º trimestre de gravidez, faço questão em repetir em todas as consultas antes da grávida/casal/família sair a mesma lengalenga:

 

"Por favor estejam atentos aos movimentos do bebé - é a maneira de sabermos que ele está bem. E se houver perda de sangue ou de líquido, contrações de 10 em 10 minutos durante 1 hora, dores de cabeça fortes, alterações da visão, inchaço súbito das face ou outros sintomas fora do normal, façam favor de vir à urgência o mais depressa possível para confirmar se está tudo bem".

 

Há que me diga que prefere não incomodar.  Que, às tantas, é algo sem importância e só vem preencher a urgência. Eu digo que prefiro que as minhas grávidas sejam chamadas de "chatas" e que não seja nada, do que fiquem em casa e haja algo sério. Com a saúde de uma mãe e de um bebé não se brinca.

Acho que acabo por passar a mensagem. E ainda bem.

 

Por isso, quando recebo uma chamada às 2:00 da manhã, sei que é algo importante. Sei que aquele pai, que me liga com voz assustada, que viu a mulher a perder sangue, às 37 semanas de gravidez, e com uma dor que não parava, se lembrou do que eu disse. E que não hesitou e literalmente voou a caminho do hospital, para conseguir chegar o mais rápido possível com a mulher e o filho em segurança ao local onde pudesse receber ajuda. Que me ligou a perguntar se estava a fazer bem, mas no seu interior já sabia. E já estava a caminho do local certo, no timming certo.

 

Já sabia que agir rápido era o que era preciso fazer.

 

Saber o que fazer faz mesmo a diferença. Aquele pai salvou mãe e filho de um descolamento de placenta.  Entrou no momento certo, encontrou a equipa à sua espera e em pouco tempo, com uma cesariana emergente, viu nascer o seu filho, e viu a sua mulher ficar bem - e a confirmação de que mais de metade da placenta estava descolada e que as vidas de ambos estiveram por um fio.

Este pai é o verdadeiro herói, porque conseguiu ter sangue frio e lembrar-se daquela lengalenga que a chata da médica obstetra repetia no final de todas as consultas. 

 

(E o que eu adoro ser uma médica chata e poder ajudar a que no final, tudo corra bem!)

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