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Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

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O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Das coisas boas da medicina

Avatar do autor , 02.11.18

Muita gente acha que os médicos têm de ser frios. Duros como pedra. Que aprendem a não sentir e que não têm qualquer ligação com os pacientes. Que é isto que nos ensinam na faculdade: a manter a distancia. Que só assim conseguiremos ser bons no que fazemos, porque nos focamos no diagnóstico e no tratamento, e não nos distraímos com a pessoa.

 

Na realidade, das coisas que mais gosto na medicina, é esta oportunidade de conhecer as pessoas.

Sim, tenho de fazer ecografias, saber se há risco de parto pré-termo e identificar sem pestanejar uma pré-eclâmpsia. Mas bolas, é maravilhoso ver um casal chorar de felicidade por ter finalmente um teste de gravidez positivo ao fim de muitos anos de batalha por um filho. É extraordinário poder observar o crescimento de um bebé nas ecografias, ver a felicidade da mãe quando sente os primeiros pontapés. Fico sem palavras perante a emoção dos pais ao pegar pela primeira vez no filho recém-nascido.

 

E é impossível não partilhar lágrimas e sorrisos - porque as emoções, os sentimentos, o caminho, são partilhados pelo médico e pelo paciente. Não consigo, ao fim de nove meses de consultas e de um parto, não ver as minhas pacientes como minhas amigas - e aquele abraço sentido que me dão na consulta do pós-parto faz-me sentir que é por isto que vale a pena ser médico. Pelas pessoas. Que passam a ser parte de mim. Porque eu também passei a fazer parte da história delas.

 

É a partilha que faz sentido e que nos torna humanos.

 

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Problemas que uma obstetra tem

Avatar do autor , 26.06.18

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Quem segue este blogue há mais tempo e em particular as minhas “Confissoes de uma Médica”, que originaram um livro com o mesmo nome, sabe que neste mundo da obstetricia há sempre histórias mais ou menos engraçadas e mais ou menos embaraçosas.

 

E porque este mundo das grávidas tem muitos pormenores importantes - por exemplo: "Quando foi feito o bebé?"- está associado a toda uma panóplia de confusões que podem envolver uma ou mais mães e um ou mais pais. 

 

Apesar de não ser a primeira vez que me vejo envolvida em confusões deste tipo, já fico com taquicardia quando a minha assistente entra com ar de caso e avisa:

 

 

 

 

O Taj Mahal e a hemorragia pós-parto

Avatar do autor , 19.02.18

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É uma das sete maravilhas do mundo, e sem dúvida, um lugar imperdível quando se visita a Índia.

O Taj Mahal foi construído pelo imperador Mogul Shah Jahan em honra a Mumtaz Jahal, sua mulher e amor da sua vida, junto ao rio Yamuna, em Agra. 

Tiveram 14 filhos, e Mumtaz morreu após o parto do 14º, devido à causa mais frequente de morte materna no mundo - a hemorragia pós-parto.

 

A hemorragia pós-parto corresponde à perda de sangue excessiva (mais de 1000ml) nas primeiras 24 horas após o parto. Também pode ocorrer de forma tardia, até 12 semanas após o parto (menos frequente).

Há várias causa para isto, mas a atonia uterina, ou seja a incapacidade do útero contrair corretamente, é a mais frequente.

Para evitar esta terrível complicação, em todo o mundo há um esforço dos profissionais de saúde para que existam equipas treinadas para reconhecer esta situação e fazer o tratamento adequado atempadamente. 

 

 

Coisas que as pessoas adoram dizer às grávidas

Avatar do autor , 13.02.17

Não sei como foi convosco, mas muito provavelmente aconteceu algo muito parecido a isto.


Assim que ficamos grávidas, de repente, toda a gente SABE o que vai acontecer, o que podemos ou não fazer, o que podemos comer. E pelo nosso ar, ou pelo formato da barriga, ou pelo alinhamento das estrelas, de CERTEZA que conseguem prever tudo.

Reconhecem isto?

"Ah...tem a barriga em bico, de certeza que é um menino!!!" (50% de hipóteses de acertar...)


"Ah, tem uma barriga tão grande! De certeza que vão ser dois!"...e duas horas mais tarde, outro "alguém" igualmente sábio "Ah, que barriga tão pequenina! Vai ser um bebé muito magrinho, é melhor descansar!" (alguém precisa de óculos ou de uma fita métrica)


"Está óptima esta gravidez, não aumentou nada de peso!" e cinco minutos depois outro comentário "Está tão gorda e inchada! Já aumentou muito de peso, não foi?" (melhor usar tabela ao pescoço com aumento total de peso na gravidez)


"Ah, está com um ar resplandecente, é menino de certeza!" e dias depois ouve-se "Tem a pele e o cabelo lindos, é porque vai ser menina, aposto!"(...)


"Se continua a trabalhar vai nascer antes de tempo, de certeza!"


"Com essa barriga vai ter um bebé de 5 kg, vai ver que tem de ser cesariana"...(só obstetras...)

Solução : SORRISO...silêncio...e continuar a SORRIR.


Claro que depois de o bebé nascer, ainda há mais médicos/psicólogos/educadores por aí, que têm sempre a receita milagrosa para os problemas do dia-a-dia:

"Ah...esse choro deve ser fome, de certeza!O melhor é dar leite em pó, o menino está a ficar com fome só com a mama!" ou então "O menino vai ficar muito gordinho com esse leite, porque é que não dá mama?" (nunca ninguém está satisfeito...)


"Colo? Está a habituá-lo mal!Ele depois quer sempre colo!" (sim, aos 18 anos deve querer muito colinho...)


"Nem pensar em deixá-lo dormir na cama dos pais! Olhe que ele depois habitua-se!" (sim, sim, ouvi falar de miúdos de 20 anos a levarem as namoradas para a cama dos pais.

E blábláblá...wiskas saquetas.


E pronto. É por isso que eu gosto de sorrir. 

 

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Tosse convulsa - como proteger os nossos bebés?

Avatar do autor , 25.11.16

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A tosse convulsa é uma doença causada por uma bactéria, que afeta o sistema respiratório. 

 

A vacinação para a tosse convulsa existe desde 1965 no plano nacional de vacinação. No entanto, por razões várias , o número de casos de tosse convulsa tem aumentado nos últimos anos, em particular em bebés até aos dois meses, já que só a partir dessa idade é que se inicia a vacinação dos mesmos.

Os bebés precisam mais frequentemente de internamento em cuidados intensivos, e têm mais frequentemente complicações graves.

Assim, têm-se tentando encontrar maneiras de proteger estes bebés pequenos, que ainda não foram imunizados.

 

A melhor estratégia parece ser a vacinação da grávida, que se baseia na passagem transplacentária de anticorpos da mãe para o filho, conferindo-lhe proteção passiva até ao início da vacinação, aos 2 meses de vida.

 

A vacinação deve efetuar-se na altura da gravidez em que a passagem de anticorpos é mais eficaz, o que acontece entre as 20 e as 36 semanas, mas principalmente entre as 20 semanas e as 32 semanas de gravidez.

A vacinação anterior à gravidez ou a vacinação em gravidez anterior não cumpre este requisito, sendo necessário repetir a vacinação em cada gravidez.

 

RECOMENDAÇÃO:

- Recomenda-se a vacinação durante a gravidez com uma dose de vacina combinada contra a tosse convulsa, o tétano, e a difteria, em doses reduzidas (Tdpa), entre as 20 e as 36 semanas de gestação, idealmente até às 32 semanas;

- A vacinação deve ocorrer após a ecografia morfológica (recomendada entre as 20 e as 22 semanas + 6 dias).

 

Dica: se estão grávidas, falem sobre este assunto com o vosso médico assistente. Só a partir de 2017 a vacina será dada gratuitamente à grávida, mas atualmente pode ser comprada com prescrição médica e administrada no Centro de Saúde.

 

A recomendação é da DGS e pode ser integralmente consultada aqui.

 

 

 

Quando nem tudo corre bem: a perda gestacional

Avatar do autor , 02.10.16

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Pensa-se que cerca de 10% das gravidezes clinicamente identificadas terminam em perda gestacional, a grande maioria (cerca de 80%) no primeiro trimestre - uma situação que se designa habitualmente por “aborto”.

Na verdade, o aborto espontâneo é uma das complicações mais comuns da gravidez, ocorre em cerca de 15% das gravidezes e pode ser uma “ameaça de aborto” ou um “aborto em evolução”, um “aborto completo ou incompleto”, ou mesmo uma “gravidez anembriónica” – nomes mais ou menos complicados para dizer que nem tudo está a correr bem.

 

Quando há mais do que três abortos, diz-se que é uma situação de aborto recorrente, e recomendam-se estudos mais aprofundados para esclarecer a situação.

 

O alarme surge quando há uma hemorragia vaginal e/ou dor pélvica. Muitas mulheres têm uma hemorragia no inicio da gravidez, mas nem todas terminarão numa gravidez não evolutiva – é fundamental ser observada por um obstetra, que indicará o que fazer. Numa ameaça de aborto pode ser necessário repouso ou tratamentos específicos, enquanto que se for um aborto em evolução pode não ser preciso fazer nada (a evolução pode ser idêntica a uma menstruação mais abundante) mas há situações em que é necessário internamento e mesmo curetagem.

 

A causa dos abortos espontâneos está muitas vezes relacionada com o tempo da perda:

 

 

Levar ou não epidural, eis a questão

Avatar do autor , 29.08.16

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 Para podermos escolher (e bem!), o melhor é estarmos informados.

Saber o que é a epidural é fundamental para decidirmos se queremos ou não este método para diminuir a dor no trabalho de parto.

 

O que é?

A anestesia epidural é o método mais utilizado no trabalho de parto para reduzir a dor. Este tipo de anestesia regional (só bloqueia a dor numa determinada região do corpo) ajuda a reduzir o desconforto causado pelas dores, é a mais segura para a mãe e para o bebé e permite à grávida ser uma participante ativa em todo o processo.

 

Quando é que se pode levar a epidural?

Geralmente, a epidural é administrada quando se está na fase ativa do trabalho de parto, com mais de 3 cm de dilatação e contrações regulares. É necessário que a grávida se sente ou se deite de lado e arqueia as costas, para que se possa realizar o procedimento – é necessário colocar um cateter numa determinada zona da coluna lombar, por onde vai entrar o anestésico.

Quando a epidural começa a fazer efeito, o que ocorre de forma progressiva e de baixo para cima, a grávida começa a sentir calor, a sensação de peso nas pernas e de formigueiro.

Podem existir efeitos secundários, como a baixa da pressão arterial da mãe, e consequente bradicardia fetal, que pode ser prevenida na maioria dos casos com a administração de soro.

 

Quando é que não se pode fazer uma epidural?

  • Se a grávida está a fazer um anticoagulante
  • Se a grávida tem um nível baixo de plaquetas no sangue
  • Se a grávida tem uma infeção nas costas
  • Se a grávida tem uma infeção no sangue
  • Se não é possível ao anestesista localizar o espaço epidural
  • Se o trabalho de parto está a decorrer muito rapidamente e não há tempo para a anestesia

 

E quem tem tatuagens nas costas, pode fazer epidural?

 

 

Diabetes na gravidez

Avatar do autor , 12.08.16

 

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A diabetes é um problema de saúde universal, que pode surgir em qualquer idade da vida.

A diabetes gestacional define-se como qualquer grau de intolerância aos hidrato de carbono diagnosticado ou detectado pela primeira vez no decurso da gravidez. 

Sabe-se que há uma relação linear entre os valores da glicemia materna (açúcar no sangue) e as mobilidade materna, fetal e neonatal. 

Ou seja, valores persistentemente elevados de açúcar no sangue da grávida podem originar excessivo crescimento do feto (macrossomia) associado a problemas no parto (distócia de ombros, aumento da taxa de cesarianas, hipóxia perinatal, aumento dos partos instrumentados) e aumentam a probabilidade da grávida, no futuro, desenvolver uma diabetes. 

Para além disso, a exposição à diabetes no meio intra-uterino está associado a um risco acrescido do filho ter excesso ponderal e obesidade no início da infância, maior risco de diabetes tipo 2 e aumento do risco cardiovascular - o conceito de "programação fetal".

 

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Grávidas e sushi: sim ou não?

Avatar do autor , 15.04.16

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O sushi já invadiu a nossa vida ocidental. E há poucas pessoas que não se deliciem com estas iguarias nipónicas. Um bom sushi é uma refeição maravilhosa (eu adoro!)

 

Então e na gravidez?

Podemos comer sushi ou não? É perigoso? Vamos apanhar toxoplasmose? 

 

Ora bem, a verdade é que, desde que o peixe utilizado no sushi tenha sido previamente congelado, não há problema nenhum. O risco de toxoplasmose desaparece, visto que potenciais oócitos de toxoplasma que estivessem no peixe (caso o peixe viesse de águas contaminadas) são destruídos com a congelação.  Para além disso, a maioria do salmão utilizado é de aquacultura, com condições controladas e é muito pouco provável que haja contaminação com toxoplasma.

O mais seguro será perceber se no restaurante de sushi onde queremos ir o peixe é previamente congelado, e se há boas condições higieno-sanitárias na preparação do sushi. Se tudo estiver ok, então algumas refeições de sushi na gravidez não deverão ter complicações.

Também o sushi que se vende congelado pode ser consumido por grávidas. Outra opção segura é o sushi cozinhado.

Para além disso, devemos escolher variedades com baixo nível de mercúrio, como o salmão e o camarão e não abusar do atum, por ter muito mercúrio.

Sim, pode-se comer sushi na gravidez - evidência científica aqui.

 

 

 

 

 

 

Quando é preciso esconder a gravidez

Avatar do autor , 14.01.16

Costumo dizer às futuras mães que todas as gravidezes são diferentes. Até a mesma mulher, cada vez que espera um novo bebé, vai viver esta fase de forma diferente.  É impossível comparar barrigas, sintomas, alterações de humor. A ciência não prevê o que vai acontecer em cada gravidez - pode dar uma probabilidade, mas nunca há certezas de nada. 

Há grávidas tranquilas, grávidas que passam 9 meses a vomitar. Grávidas que brilham, exibindo orgulhosamente a sua barriga, grávidas que se sentem pessimamente naquele novo corpo e só querem que passe depressa.

 

E depois há as gravidezes escondidas.

Aquelas que acontecem sem querer, quando se tem 16 anos.

Quando se vive intensamente o momento, quando as emoções comandam. Quando não se tem coragem para contar aos pais, porque se sente que o mundo perfeito que tinham vai ruir, que se vão desiludir com a menina deles. E por isso, esconde-se o máximo de tempo possível.

Disfarçam-se os enjoos, reprime-se a vontade de comer descontroladamente ou aqueles apetites estranhos, de grávida. Adapta-se a roupa para ninguém notar. Não se fala sobre isso a ninguém, nem à melhor amiga. Não se vai ao médico, para ninguém desconfiar. Nas aulas de educação física finge-se uma dor de barriga, estar com o período, ter febre. E assim vão passando as semanas.

Mas há um momento em que a gravidez escondida se torna real, quando a barriga se torna impossível de esconder. E afinal, por entre lágrimas e alguma revolta, os pais aceitam, e ela fica tranquila. E feliz, porque queria muito aquele bebé, apesar de só ter 16 anos. E no final, tudo corre bem, como nos contos de fadas.

 

E hoje, aqui no consultório, está grávida do segundo filho e lembra-se perfeitamente da primeira gravidez. Lembra-se que foi tão diferente. Agora pode ver com tempo, na ecografia, os pés do seu filho, as mãos, a expressão - e a filha também pode espreitar naquele monitor o seu irmão, a filha que passou quase 40 semanas escondida.

Nesta gravidez, quer ver tudo, saber tudo, contar ao mundo que adora estar grávida, que ama muito os seus filhos.

 

E sim, cada gravidez é única e especial. Inesquecível, corra como correr.

 

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