Instinto
, 08.10.22
Na maioria dos hospitais recomenda-se a indução do parto às 41 semanas. A partir desta idade gestacional aumenta o risco de morte fetal principalmente porque a placenta pode começar a falhar.
Segui uma grávida que já tinha chegado a está idade gestacional e o bebé ainda não tinha dado ar de querer vir ver o mundo cá fora. Ela estranhava ainda não ter entrado espontaneamente em trabalho de parto, tudo aconteceu muito naturalmente com o primeiro filho, que nasceu de parto normal, e agora… nada.
Concordamos que a indução seria a melhor opção.
Assim, nas 41 semanas de gestação foi internada e começamos o processo com oxitocina, porque o colo do útero estava favorável.
Algumas horas depois, sou chamada para avaliar a grávida de forma urgente. Corri para o quarto, preocupada. O CTG estava normal, mostrando batimentos cardíacos saudáveis do bebé. As contrações começavam a aparecer de forma regular.
Quem não estava nada bem era ela: respiração rápida, suada, muito agitada. A tensão estava normal mas os seus batimentos cardíacos muito acelerados. Como uma crise de ansiedade.
Mas em Obstetricia há tantas situações possíveis preocupantes a excluir que não podemos pensar somente na ansiedade. Fizemos uma avaliação completa e não encontramos nada. Mas ela continuava agitada. “Dra, por favor, algo não está bem. Eu sinto. Podemos avançar para uma cesariana?”
Expliquei que a indução estava a decorrer normalmente, a dilatação a avançar, as contrações regulares, não havia indicação para cesariana. E já tinha tido um parto vaginal, por isso era provável que este também fosse.
Mas as minhas palavras não resultaram, continuava ansiosa e a pedir uma cesariana,sentia que algo não estava bem.
Acabamos por avançar para uma cesariana depois de explicar os riscos, que aceitou. Depois de chegarmos ao bloco operatório e de tudo preparado, começamos e em poucos instantes ouviu-se um choro vigoroso assim que a cabecinha saiu.
Quando tentei exteriorizar o resto do corpo, verificamos que o cordão era muito curto e que havia… um nó verdadeiro.
Possivelmente se tivéssemos insistido no parto normal… tinha corrido muito mal, porque ao descer , o bebé apertaria aquele nó.
Ao perceber a situação, a mãe chorou convulsivamente, com o seu bebé saudável nos braços.“Eu sabia que algo não estava bem, Dra”.
Lição? Nunca duvidar do instinto de uma mãe.
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