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Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Às mães.

Avatar do autor , 05.05.19

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Eles chegam de mansinho, enquanto mudam o nosso corpo de forma extraordinária. Fazem uma chegada triunfal no momento do parto mas precisam de tempo para se adaptarem à nova vida. Quando regulam sonos e comida, desafiam-se constantemente com novas aprendizagens. E crescem. E mudam. E crescem. E têm opiniões e fazem as suas escolhas. E querem voar. E nós, mães, estamos sempre por perto para os orientar, para lhes dar a mão, para os ajudar, para os ensinar ou para os repreender se necessário.


Quando nasce um filho, nasce uma mãe.


E é um trabalho para a vida, com upgrades constantes e sem formações prévias obrigatórias.
Não é nada fácil. Temos de nos reinventar e descobrir novos caminhos. Cometemos erros e mudamos estratégias. Duvidamos de nós. Mas nunca desistimos, e sabemos que no nosso coração os nossos filhos estão sempre em primeiro lugar.


Feliz Dia da Mãe a todas as mães, que todos os dias dão o seu melhor nestes desafio diário que é ter filhos!

Confissões de uma médica: quando a vida nos surpreende

Avatar do autor , 18.04.19

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Uma urgência, a altas horas da noite. Daquelas urgências caóticas em que o trabalho não pára. Chamo a próxima paciente, reparo pela ficha que é uma adolescente de 15 anos.

Vem com a mãe, encolhida, com as mãos na barriga. Não olha para mim, mas percebo que não está bem.

A mãe toma a palavra e diz-me que a filha está desde o jantar com fortes dores de barriga.  Que tem andado muito inchada, que pode ser uma apendicite. Não melhorou com os analgésicos que lhe deu. Está preocupada, mas na urgência geral não sabem o que pode ser, e como ela está no primeiro dia do período resolveram pedir uma avaliação em ginecologia.

A filha continua cabisbaixa e de vez em quando nota-se que tem dor. Como se fosse uma cólica. Reparo que parece ter algum peso a mais, mas mantém sempre os braços e as mãos a envolver a barriga. 

Pergunto se a posso observar, e quando se deita na marquesa percebo o que se passa. Ou pelo menos suspeito. Pergunto-lhe se tem tido o período todos os meses, responde-me que está menstruada. E namorado? A mãe diz imediatamente que não. Que nunca teve namorado e que não é como as amigas, que andam por aí sem terem cuidado. Pergunto-lhe se prefere que a mãe saia um bocadinho para ficar mais à vontade, mas diz que não.

Pouso a sonda do ecógrafo na barriga dela e pergunto se não nos quer contar nada, mas ela firmemente diz que não sabe do que estou a falar. Na imagem, vê-se algo a piscar. E depois uns dedos. E um pé.

A mãe fica a olhar para o ecrã sem perceber nada. A filha começa a chorar.

"Mas o que é que se passa com ela, doutora? Diga-me por favor,  que cada vez percebo menos! E porque é que ela está a chorar?". Tento que seja ela a contar à mãe, mas não consegue.

 

Lá acabo por explicar que a filha está grávida, e que pelo tamanho do bebé, pelas dores e por aquela pequena perda de sangue, parece estar a entrar em trabalho de parto.

A mãe fica em choque e sem reação. A miúda de 15 anos murmura repetidamente um "desculpa, desculpa" e eu fico a tentar perceber o que posso fazer para ajudar naquele momento. É daquelas coisas que não têm um guião, que mexem com confiança, com o nosso papel de mães, com a responsabilidade de cada um,  com uma nova vida no mundo.

 

E no meio de uma noite agitada e de uma mãe e filha em choque, chega mais uma linda menina ao mundo, indiferente a todo o caos à sua volta, saudável e a chorar vigorosamente.

 

 

Podemos ser o que quisermos

Avatar do autor , 01.11.18

Fui ao concerto da Carolina Deslandes em Faro. Na realidade, foi um presente de aniversário para a minha filha e para uma amiga e acabamos por ir numa espécie de saída de miúdas.

O concerto abre com a Carolina em palco, sentada num banco de jardim, com a banda por trás e um muro com flores. Apesar de sentada, a barriga de grávida de 3º trimestre nota-se bem. E a tranquilidade e harmonia do cenário quando ela começa a cantar é algo extraordinário - está tudo exatamente como devia de estar e entramos no mundo dela, na "Casa" dela, com convite, como se fossemos amigos de longa data.

Ela confessa no final da primeira música que a barriga de grávida lhe dificulta algumas das respirações necessárias para as notas saírem como devem - mas se não o dissesse, ninguém notaria. Imagino o bebé embalado pelas músicas, e com a mesma tranquilidade que a mãe. Está tudo perfeito.

 

Durante o concerto, ela faz mais confissões, e fala sobre os desafios da maternidade - mais em concreto, o facto de muita gente achar que se escolhermos ser mães, então vamos deixar a nossa carreira para trás. Escolher a maternidade é perder o comboio? Em particular quando se fala de artistas, muita gente acha isto. Mas para os médicos é igual, e para tantas outras profissões. Afinal, quem disse que não podemos ser tudo ao mesmo tempo? Ela achou que isto não era verdade. Eu também. E tantas outras mulheres.

 

Lembro-me que durante o internato médico, quando anunciei que estava grávida, acharam que eu ia deitar tudo a perder. Que não ia conseguir os números cirúrgicos necessários, que me limitaria na minha formação como médica. Que me estava a desviar do meu caminho. Que ia perder tempo. Eu achava que não. Queria muito ser médica, mas também queria muito ser mãe. E porque não ser as duas coisas?

Acredito que a maternidade nos dá novas capacidades. Novas leituras do mundo. Novas maneiras de encarar os desafios, associados a uma capacidade extraordinária de multitasking. E tudo isto nos ajuda na nossa profissão, na nossa família, no nosso dia-a-dia.

A gravidez e a maternidade ajudaram-me a entender melhor os sintomas das grávidas, as dúvidas e ansiedades. Acredito que ser mãe me tornou melhor obstetra, e não o contrário, como muitos me queriam fazer crer.

 

Curiosamente, mesmo quando mostramos que somos capazes, se anunciamos uma nova gravidez, a conversa repete-se. "Mas porquê outra criança?" "Devias deixar isso para outra altura".

A maneira de responder a estas pessoas? Sorrir e continuar. Porque todos podemos ser o que quisermos.

 

 

 

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Carolina Deslandes, e o novo album Casa 

Baby brain: o que muda no cérebro das mães

Avatar do autor , 02.10.18

Sabemos que ficar grávida é entrar num novo mundo: o que podemos e devemos comer, o que vestir, como cuidar do nosso bebé, que cremes usar, os carrinhos ideais para os passeios, as camas que garantem um melhor sono, e muito, muito mais. Amigos, familiares e até desconhecidos adoram dar-nos palpites e opiniões, comentar experiencias de parto, falar das noites sem dormir, do quanto devemos engordar.

 

Mas ainda há um assunto muito pouco falado: o baby brain. E o que é isto?

 

Durante a gravidez, sabemos que há mudanças importantes no corpo das mães: há um aumento de peso, as ancas alargam, as mamas aumentam. Mas, e então a mente? Será que o nosso cérebro também muda durante a gravidez?

A resposta é sim. O cérebro das grávidas muda - em termos de função e de estrutura. Tanto, que os investigadores designam estas mudanças como "baby brain".

 

 

Quantas grávidas não notam que se esquecem do lugar onde deixaram as chaves de casa ou o telemóvel? E de levar os exames para a consulta? Se até há pouco tempo estas alterações de memória eram tidas como um mito da gravidez, são cada vez mais levadas bem a sério. Pensa-se que cerca de 80% das grávidas têm alterações da função cognitiva!

 

Foi publicado este ano um estudo no Medical Journal of Australia que comprova isso mesmo -  mulheres grávidas e não grávidas realizaram uma série de tarefas, incluindo testes de memória, e foram comparadas relativamente aos resultados. Conclusão: as grávidas tiveram piores resultados nos testes de atenção, tomada de decisões, planeamento e memória.

Os investigadores concluiram também que não parece haver impacto importante no dia a dia (por exemplo interferência com trabalho) mas a grávida nota que as suas capacidades estão diferentes.

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Ser mãe não é fácil.

Avatar do autor , 03.05.18

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Não me venham com a conversa que ser mãe é tarefa fácil. Que é instintivo.

A maior parte dos dias acho que não faço a mínima ideia do que ando a fazer - principalmente quando os dois discutem, quando não consigo cumprir o que prometi por questões profissionais, quando a pré-adolescente me faz mau ar por não a deixar fazer algo que ela quer muito.

Ser mãe é uma espécie de projeto em andamento.

Que nunca temos bem a certeza se vai correr na perfeição, que tem falhas, que precisa ser melhorado, que tem dias bons e de entusiasmo e outros de quase desespero.

É sem duvida o maior desafio da minha vida e não mudava nada para poder estar onde estou - com estes dois miúdos que me fazem cabelos brancos e me arrancam sorrisos e lágrimas enquanto o diabo esfrega um olho.

 

 

 

Eu, mãe, confesso.

Avatar do autor , 23.10.17

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Apesar de os meus filhos serem a melhor coisa do mundo, nem sempre sou a mãe perfeita e fico muito longe da ideal.

Por isso, eu, mãe, confesso:

- foi difícil encontrar o momento ideal para decidir ter filhos. Acabou por ser uma coisa instintiva. E às vezes tenho saudades da liberdade que tínhamos antes de vocês nascerem (mas já não consigo imaginar a minha vida sem os dois);

- houve momentos em que não gostei de estar grávida - porque os pés inchavam, porque me sentia desconfortável naquele meu corpo, porque tinha saudades de vestir as minhas calças de ganga e dormir de barriga para baixo;

- nunca gostei do momento do parto, porque sei demais - penso sempre em mil coisas que podem acontecer, e vocês são o que há de mais precioso no mundo para mim ( e prefiro mil vezes estar do lado do obstetra do que ser a grávida)

- aquele instinto maternal imediato, de que tanto falam, não apareceu, por magia, assim que nasceram - foi uma coisa que se foi construindo devagarinho e de forma sólida, e agora é indestrutível;

 

À segunda é bem melhor!

Avatar do autor , 26.02.17

 

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Por mais preparadas que estejamos, o pós-parto é uma fase muito difícil. E se estivermos a falar do primeiro filho, mais ainda.

Costumo dizer que vale a pena ter mais do que um filho para aproveitar tudo melhor, porque me lembro perfeitamente do drama que foi o primeiro puerpério, e de o segundo ser muito mais descomplicado e tranquilo.

 

Ser mãe de primeira viagem é tramado. E quando se fala em particular daquele célebre primeiro mês depois do nascimento do nosso bebé, esqueçam.

Todo o glamour da gravidez desapareceu, as hormonas estão em completa anarquia, temos um ser minúsculo à nossa responsabilidade e de repente não sabemos fazer nada e duvidamos de tudo. Eu achava que ia ser tudo muito simples, porque afinal era médica, e lidava com bebés todos os dias, mas a imponência de ter o meu bebé à minha responsabilidade, com um monte de hormonas descontroladas mudou completamente os meus planos.

 

O 1º pós-parto?

Desde um simples banho ao leite tudo é complicado. E de repente parecemos ermitas, cabeleireiro e maquilhagem zero e a linha de pensamento só tem cócó-mama-fralda-baba-cocó-mama...and so on. Almoçamos às 4 da tarde (ou nem comemos decentemente), só tomamos banho ao final do dia quando chega o pai, temos olheiras até aos pés pelas noites em claro, com um bebé a adaptar-se a esta vida fora do útero.

Objectivo: Sobreviver.

 

O 2º pós-parto!

A tendência é para descomplicar.

Já há outro ser pequeno em casa à nossa responsabilidade, que também precisa de atenção e de uma rotina, já estamos mentalizadas vpara todas as dificuldades e acima de tudo, já temos treino na coisa.

E é tudo muito mais soft.

 

 

 

Coisas que as pessoas adoram dizer às grávidas

Avatar do autor , 13.02.17

Não sei como foi convosco, mas muito provavelmente aconteceu algo muito parecido a isto.


Assim que ficamos grávidas, de repente, toda a gente SABE o que vai acontecer, o que podemos ou não fazer, o que podemos comer. E pelo nosso ar, ou pelo formato da barriga, ou pelo alinhamento das estrelas, de CERTEZA que conseguem prever tudo.

Reconhecem isto?

"Ah...tem a barriga em bico, de certeza que é um menino!!!" (50% de hipóteses de acertar...)


"Ah, tem uma barriga tão grande! De certeza que vão ser dois!"...e duas horas mais tarde, outro "alguém" igualmente sábio "Ah, que barriga tão pequenina! Vai ser um bebé muito magrinho, é melhor descansar!" (alguém precisa de óculos ou de uma fita métrica)


"Está óptima esta gravidez, não aumentou nada de peso!" e cinco minutos depois outro comentário "Está tão gorda e inchada! Já aumentou muito de peso, não foi?" (melhor usar tabela ao pescoço com aumento total de peso na gravidez)


"Ah, está com um ar resplandecente, é menino de certeza!" e dias depois ouve-se "Tem a pele e o cabelo lindos, é porque vai ser menina, aposto!"(...)


"Se continua a trabalhar vai nascer antes de tempo, de certeza!"


"Com essa barriga vai ter um bebé de 5 kg, vai ver que tem de ser cesariana"...(só obstetras...)

Solução : SORRISO...silêncio...e continuar a SORRIR.


Claro que depois de o bebé nascer, ainda há mais médicos/psicólogos/educadores por aí, que têm sempre a receita milagrosa para os problemas do dia-a-dia:

"Ah...esse choro deve ser fome, de certeza!O melhor é dar leite em pó, o menino está a ficar com fome só com a mama!" ou então "O menino vai ficar muito gordinho com esse leite, porque é que não dá mama?" (nunca ninguém está satisfeito...)


"Colo? Está a habituá-lo mal!Ele depois quer sempre colo!" (sim, aos 18 anos deve querer muito colinho...)


"Nem pensar em deixá-lo dormir na cama dos pais! Olhe que ele depois habitua-se!" (sim, sim, ouvi falar de miúdos de 20 anos a levarem as namoradas para a cama dos pais.

E blábláblá...wiskas saquetas.


E pronto. É por isso que eu gosto de sorrir. 

 

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