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Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Café, Canela & Chocolate

O site da autora Sofia Serrano. Conversas de uma mãe, que é médica Ginecologista/Obstetra e adora escrever. Com sabor a chocolate.

Das coisas boas da medicina

Avatar do autor , 02.11.18

Muita gente acha que os médicos têm de ser frios. Duros como pedra. Que aprendem a não sentir e que não têm qualquer ligação com os pacientes. Que é isto que nos ensinam na faculdade: a manter a distancia. Que só assim conseguiremos ser bons no que fazemos, porque nos focamos no diagnóstico e no tratamento, e não nos distraímos com a pessoa.

 

Na realidade, das coisas que mais gosto na medicina, é esta oportunidade de conhecer as pessoas.

Sim, tenho de fazer ecografias, saber se há risco de parto pré-termo e identificar sem pestanejar uma pré-eclâmpsia. Mas bolas, é maravilhoso ver um casal chorar de felicidade por ter finalmente um teste de gravidez positivo ao fim de muitos anos de batalha por um filho. É extraordinário poder observar o crescimento de um bebé nas ecografias, ver a felicidade da mãe quando sente os primeiros pontapés. Fico sem palavras perante a emoção dos pais ao pegar pela primeira vez no filho recém-nascido.

 

E é impossível não partilhar lágrimas e sorrisos - porque as emoções, os sentimentos, o caminho, são partilhados pelo médico e pelo paciente. Não consigo, ao fim de nove meses de consultas e de um parto, não ver as minhas pacientes como minhas amigas - e aquele abraço sentido que me dão na consulta do pós-parto faz-me sentir que é por isto que vale a pena ser médico. Pelas pessoas. Que passam a ser parte de mim. Porque eu também passei a fazer parte da história delas.

 

É a partilha que faz sentido e que nos torna humanos.

 

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Podemos ser o que quisermos

Avatar do autor , 01.11.18

Fui ao concerto da Carolina Deslandes em Faro. Na realidade, foi um presente de aniversário para a minha filha e para uma amiga e acabamos por ir numa espécie de saída de miúdas.

O concerto abre com a Carolina em palco, sentada num banco de jardim, com a banda por trás e um muro com flores. Apesar de sentada, a barriga de grávida de 3º trimestre nota-se bem. E a tranquilidade e harmonia do cenário quando ela começa a cantar é algo extraordinário - está tudo exatamente como devia de estar e entramos no mundo dela, na "Casa" dela, com convite, como se fossemos amigos de longa data.

Ela confessa no final da primeira música que a barriga de grávida lhe dificulta algumas das respirações necessárias para as notas saírem como devem - mas se não o dissesse, ninguém notaria. Imagino o bebé embalado pelas músicas, e com a mesma tranquilidade que a mãe. Está tudo perfeito.

 

Durante o concerto, ela faz mais confissões, e fala sobre os desafios da maternidade - mais em concreto, o facto de muita gente achar que se escolhermos ser mães, então vamos deixar a nossa carreira para trás. Escolher a maternidade é perder o comboio? Em particular quando se fala de artistas, muita gente acha isto. Mas para os médicos é igual, e para tantas outras profissões. Afinal, quem disse que não podemos ser tudo ao mesmo tempo? Ela achou que isto não era verdade. Eu também. E tantas outras mulheres.

 

Lembro-me que durante o internato médico, quando anunciei que estava grávida, acharam que eu ia deitar tudo a perder. Que não ia conseguir os números cirúrgicos necessários, que me limitaria na minha formação como médica. Que me estava a desviar do meu caminho. Que ia perder tempo. Eu achava que não. Queria muito ser médica, mas também queria muito ser mãe. E porque não ser as duas coisas?

Acredito que a maternidade nos dá novas capacidades. Novas leituras do mundo. Novas maneiras de encarar os desafios, associados a uma capacidade extraordinária de multitasking. E tudo isto nos ajuda na nossa profissão, na nossa família, no nosso dia-a-dia.

A gravidez e a maternidade ajudaram-me a entender melhor os sintomas das grávidas, as dúvidas e ansiedades. Acredito que ser mãe me tornou melhor obstetra, e não o contrário, como muitos me queriam fazer crer.

 

Curiosamente, mesmo quando mostramos que somos capazes, se anunciamos uma nova gravidez, a conversa repete-se. "Mas porquê outra criança?" "Devias deixar isso para outra altura".

A maneira de responder a estas pessoas? Sorrir e continuar. Porque todos podemos ser o que quisermos.

 

 

 

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Carolina Deslandes, e o novo album Casa 

Confissões de uma médica #19: as prioridades dos médicos

Avatar do autor , 16.01.18

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Quando fazemos o juramento de Hipócrates, declaramos  "A saúde do meu doente será a minha primeira preocupação". Juramos com emoção neste momento que marca o início do nosso percurso como médicos, e acreditamos que nada nos vai fazer desviar deste caminho.

Mas a medicina não é nada linear e muito menos o trabalho dos médicos.

 

Todos os dias, lutamos para que a marcante frase seja verdade, tentando contornar escassos recursos nos hospitais, falta de pessoal, falhas nos programas informáticos, exaustão.

 

Tentamos que esta frase seja verdade mesmo quando nos exigem que realizemos consultas em 5 minutos.

 

Tentamos que seja verdade quando não paramos para almoçar para evitar que o tempo de espera aumente - e já nem o croquete ou a empada nos mata a fome num intervalo às quatro da tarde, porque o governo achou prioritário proibir a venda deste tipo de alimentos no serviço nacional de saúde, ao invés de promover a venda de alimentos saudaveis ou mesmo - na loucura! - de contratar mais pessoal para conseguirmos manter o SNS a funcionar e conseguirmos todos ter tempo para uma refeição saudável e completa a horas decentes.

 

 

 

 

O Despacito dos Médicos!

Avatar do autor , 16.11.17

Quem já leu o "Confissões de uma Médica", sabe que eu falo sobre o percurso dos médicos, em particular na Faculdade de Medicina de Lisboa - e a Noite da Medicina também lá está!

Este ano, os futuros médicos continuaram a tradição - deixo-vos o vídeo da paródia ao Despacito, devidamente adaptado à vida de um estudante de Medicina :)

 

 

É preciso mudar - dos estetoscópios às estrelas

Avatar do autor , 04.02.16

Já (quase) todos sabem que a saúde em Portugal está numa fase muito complicada. Há dificuldades para todos: para os profissionais que trabalham na área, para os utentes. Acima de tudo, tenho pena que não haja um maior esforço para mudar, para melhorar. Que não se invista no que é mais importante para a vida - a saúde. Que se mantenham as velhas mentalidades, que bons profissionais acabem por sair por ser impossivel trabalhar nas condições que temos nos dias que correm.

Mas não é só a saúde que precisa de ser renovada, é a ciência, em geral. O pilar da saúde, da alimentação, do dia-a-dia. As áreas científicas em portugal estão estagnadas, presas a velhos hábitos, a velhos sistemas. Tal como a saúde.  É preciso abrir os armários cheios de mofo e deixar entra ar fresco, luz do sol. Temos excelentes cientistas, e estamos a oferecê-los, de mão beijada, a outros países, onde são reconhecidos, ondem podem trabalhar, onde podem ir mais longe cada dia que passa.

O David é um desses cientistas fenomenais, que descobriu a galáxia CR7, com as primeiras estrelas que se formaram após o Big Bang. O David é fenomenal, apaixonado pelo seu trabalho, incansável, e digo isto à distância possível de irmã. Mas acima de tudo, sei que o David tem um enorme potencial para chegar muito, muito longe, mais ainda do que a CR7. Tenho muito orgulho nele, e muita pena que o nosso país não o estime, a ele e a tantos outros. Mais um ganho para o Reino Unido, que neste momento está cada vez mais recheado dos nossos cientistas, enfermeiros e médicos.

É preciso mudar, é urgente mudar. 

 

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Podem de ler abaixo a entrevista do David Sobral, atualmente a trabalhar na Universidade de Lancaster, na área que é a paixão dele, a Astrofísica. A entrevista original aqui.

 

 

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