Das coisas boas da medicina
, 02.11.18
Muita gente acha que os médicos têm de ser frios. Duros como pedra. Que aprendem a não sentir e que não têm qualquer ligação com os pacientes. Que é isto que nos ensinam na faculdade: a manter a distancia. Que só assim conseguiremos ser bons no que fazemos, porque nos focamos no diagnóstico e no tratamento, e não nos distraímos com a pessoa.
Na realidade, das coisas que mais gosto na medicina, é esta oportunidade de conhecer as pessoas.
Sim, tenho de fazer ecografias, saber se há risco de parto pré-termo e identificar sem pestanejar uma pré-eclâmpsia. Mas bolas, é maravilhoso ver um casal chorar de felicidade por ter finalmente um teste de gravidez positivo ao fim de muitos anos de batalha por um filho. É extraordinário poder observar o crescimento de um bebé nas ecografias, ver a felicidade da mãe quando sente os primeiros pontapés. Fico sem palavras perante a emoção dos pais ao pegar pela primeira vez no filho recém-nascido.
E é impossível não partilhar lágrimas e sorrisos - porque as emoções, os sentimentos, o caminho, são partilhados pelo médico e pelo paciente. Não consigo, ao fim de nove meses de consultas e de um parto, não ver as minhas pacientes como minhas amigas - e aquele abraço sentido que me dão na consulta do pós-parto faz-me sentir que é por isto que vale a pena ser médico. Pelas pessoas. Que passam a ser parte de mim. Porque eu também passei a fazer parte da história delas.
É a partilha que faz sentido e que nos torna humanos.